sábado, 30 de março de 2013

Escrevi esse texto para a página do Movimentos Invisíveis mais decidi postá-lo aqui também. 
Vejo o que eu vivo. Estou de dentro da máquina "escola". Uma certa ordem, um certo dispor dos corpos no espaço, a distribuição do tempo, o uniforme, a fila, a organização dos grupos de professores (que às vezes impede o trabalho coletivo e o encontro), a quantidade de alunos por turno e por sala... Eu sei  a que educação essa ordem serve: a lógica do mercado. O aluno de hoje é formado para ser o  trabalhador/ cidadão alienado/ consumidor de amanhã. Estamos fazendo nosso trabalho direitinho e às vezes isso me adoece. 
Mas às vezes estou tão saudável que eu e meus alunos somos os revolucionários, somos aqueles que subvertem a ordem. 
Sou a professora que os tira da escola para aprender nas praças da cidade (cantando e dançando LeK Lek na viagem de ônibus até o centro), sou a professora que ensina fotografia para que eles se apropriem da praça da Liberdade, sou a professora que lê toda semana para levá-los a se apaixonar pela leitura, sou a professora que materializa o poeta em sala de aula (meus escritos), conto histórias de terror para que eles aprendam a reescrevê-las e dominem algumas técnicas de escrita,  sou a professora que ensina a desconfiar da televisão e da internet, aliás ensino a desconfiar de quase tudo, até de mim.
Entendi que estou dentro da máquina e que é nesse lugar que eu posso atrasar seu funcionamento. E esse ano eu tenho 150 alunos para me ajudar. 
Aprendi uma história de um garoto espartano que roubou uma raposa e a colocou debaixo do manto. Por causa da sua formação não podia expressar dor e acabou tombando, com as vísceras roídas pela raposa. Para mim o sistema é esse menino ladrão e eu sou essa raposa, roendo por dentro. Espero que cada aluno meu seja uma raposa também. E espero continuar bem para continuar esse trabalho. A ideia é ser raposa. 

quinta-feira, 28 de março de 2013


‎"Se você quer que seu filho seja brilhante, leia para ele conto de fadas. Se você o quer muito brilhante, leia para ele ainda mais contos de fadas.”

Albert Einstein
Essa semanas, conversando com a turma e com aquele aluno de 12 anos que ainda não foi capaz de ler dei uma resposta inusitada que iluminou minha compreensão acerca do "ensino" de literatura na escola.
Toda semana leio um livro para eles. Enquanto leio converso sobre as ilustrações, sobre as técnicas de pintura, sobre os recursos que o autor usou para ganhar o leitor etc. Além disso conto histórias para que os alunos reescrevam. Trata-se de um esforço para que eles se apropriem de técnicas de formatação, apresentação de narrador /discurso no texto. A ideia e que no final do ano (como no ano passado) cada um escreva e ilustre seu próprio livro.
Estava justamente falando acerca do valor da leitura quando ele me perguntou:
__ E eu professora, como faço, eu tenho problema, não consigo aprender a ler?
__ Eu também tenho problema, sou míope e não consigo ler. Por isso uso óculos. Eu acredito que você ainda possa aprender a ler. Mas se isso não acontecer, poderá ter quem leia assim como eu leio para você agora. Se não tiver ninguém que leia, há programas de computador que leem para você.
__ Isso é para ricos, professora!
__ Não, isso não é só para ricos, é também para quem luta. Veja o caso do X. Ele não pode vir à escola e a professora vai até a casa dele. A mãe dele lutou por isso. É preciso lutar pelo que se quer. Se você quiser muito saber o que há nos livros, sempre haverá um jeito. E você consegue isso lutando.

Finalizo explicando minha constatação. É preciso tornar a leitura um desejo avassalador, a ponto de ser objeto de luta. Acredito que se eu conseguir instalar em meus alunos essa gana, a leitura fará o resto. Foi assim comigo.

quarta-feira, 27 de março de 2013

Quando as nuvens se afastam e sou 

capaz de compreender que até a 

minha insanidade está no lugar certo.
Queria ser amanda de um jeito que me acentuasse. 

A ponto de tornar impossível esse desamor que eu me dedico ás vezes.

domingo, 24 de março de 2013

Ouvi meu tio contando a história de minha bisavó Sinhaninha. Segundo ele os Gonçalves "pegaram" uma menina Puri para criar e a domiciliaram a uns 150 anos atrás. Já ouvi esta história outras vezes mas só agora tive curiosidade de investigar. Achei esse trabalho de Ricardo Batista Mineiro contando sobre os índios do leste mineiro. Mas especificamente Santana de Ferros. é bom identificar minha origem indigena, a razão dos muitos cabelos, do pouco pelo, e do rosto largo. Ma fiquei triste por Sinhaninha. Só agora entendo que realmente significa domiciliamento.

"Ainda para o historiador riobranquense: os Puri faziam parte dos indígenas pacíficos de Minas Gerais. “Só se defendiam pela Guerra, e muito mal, quando atacados de surpresa ou impedidos de fugir”.20 Neste ponto algumas impressões de Oiliam José parecem se contrapor com as do viajante Freyreiss. Em primeiro lugar, os Puri não eram vistos pelos brancos como indígenas pacíficos, provocando temor entre os fazendeiros do Leste mineiro. O relato do viajante reza que, apesar da aparente maneira inofensiva dos índios Puri para com os fazendeiros, os portugueses temiam esses índios. Um morador de Santana dos Ferros confessa que “... ele nunca caçava no outro lado do rio”, lugar onde se encontravam vagando os indígenas da tribo dos Puri e, mesmo o diretor dos índios tendo “... amansado 500 Purís e os domiciliados em lugares determinados”, os moradores de Santana ainda evitavam o contato com os índios. Como solução para esse quadro, o comandante (?) propôs que “se devia levar-lhes a varíola para acabar com eles [os índios] de uma só vez, porque a varíola é a doença mais terrível para essa gente”. Em segundo lugar, afirmava Freyreiss “... que os Purís são sempre os mais fortes do que os Coroados [...] e o arco de um Puri, nenhum Coroado pode armar”.21 Assim foi narrado o quanto um Puri era mais forte que um Coroado. A possível superioridade dos Coroado sobre os Puri, descrita por Oiliam José, parece verdadeira somente se considerarmos a superioridade numérica daqueles em relação a estes, e não as condições físicas e materiais de ambos os grupos. Freyreiss notava que os Coroado são considerados mais poderosos que os Puri; uma vez que, no caso dos primeiros, somados às mulheres e crianças, chegam a 2.000 indivíduos, enquanto, os segundos não passam de 500.22"

http://www.ichs.ufop.br/memorial/trab/h7_5.pdf

sexta-feira, 22 de março de 2013


Primeiro se foram as cores do céu
depois o canto dos pássaros
E agora...
Ah.. .agora já não posso amar 
nem em sonhos posso amar sem que essa que se chama realidade
me arranque dos braços
do grande beijo de amor

Onde foi que perdi o direito de sonhar?

segunda-feira, 18 de março de 2013

Primeiros sinais... Minha coluna deu "pt" e depois de uma manhã no Risoleta Neves e três injeções para dor ganhei uma tarde de repouso compulsório. Aproveitei para concluir a primeira leitura do Livro Enzra Pound - Poesia -que me emprestou Ricardo Aleixo.
A conclusão é simples: sinto que nem outra vida seria suficiente para traduzir tantas referências incrustadas, como pedras, nos versos de Pound.
Quantas leituras seriam necessárias para apenas arranhar coisas como " a água corrente coagula o frio" do canto 49?
Pound, sua poesia e sua existência me transporta para distorções especulares assustadoras. O que dizer de uma existência tão carregada de suas próprias contradições?
Como ele mesmo diria: "respondeu certo segundo a sua natureza".
Penso que eu bem que podia ter crido em uma entidade que se anunciasse como o arauto da justiça contra a exploração. (todos os "ismos" com os quais esteve envolvido)
Lendo Pound esbarro mais uma vez na minha mediocridade. Minha biografia não se aproxima nem de Pound nem de ninguém. Vou chorar cem vezes contra a usura mas nunca farei um canto 45. Esta é a minha tosca biografia.
Desde a infância me coloquei a margem, nem louca, nem sóbria, nem quente nem fria, nem isso, nem aquilo. Sempre quis ser todas e por mais que eu deseje alcançar um estado de completa loucura no qual a fé, o amor, o real e o desejo sejam escória indolor, caminho sobre a borda da lâmina.
Talvez não viva tanto quanto Pound, pois não fui agraciada com as ausências que possivelmente prolongaram sua vida. Pound viveu a escrever. Quanto a mim, mesmo a poesia, aquela que serviu de testemunho de alguma lucidez de Pound, me enoja. Sei de seu caráter de masturbação intelectiva, de sua natureza (para mim) de autoengano para camuflar a tragedia que é a vida.
E até esse texto, que a principio seria um monologo aspirando a diálogo, não passa do mais baixo exercício da tirania do fraco.
Se você quiser ler, leia. Espero que seja capaz de ir mais fundo em Pound que em si mesmo. Dessa forma eu recomendo o mergulho.

domingo, 17 de março de 2013

Amalgamar minha vulnerabilidade, transformá-la em pedra de amolar os dentes para, mais uma vez, travá-los nas grades da masmorra. 
Ainda que se faça necessário roer também minhas patas de raposa.
Tá. 
Mais um pouco, então. 
Quem sabe amanhã 
um grande e amarelo 
auto-engano 
caia no meu colo
e eu possa viver
mais uns anos.

domingo, 10 de março de 2013

Ainda não consegui resenhar o evento do qual participei ontem, a "Jornada sobre a Pós-historia" apesar de todo o brilho do encontro. Talvez por causa da cabeça inchada depois de oito horas de conferências, talvez por causa da minha condição de esvaziamento atual ou talvez por causa de minha resistência aos formatos didáticos da academia. Apesar disso tudo não posso negar que após essa Jornada poderei arranhar a a superfície da obra de Vilém Flusser. Preciso também agradecer aos professores pela atenção e principalmente a professora Myrian Ávila que me presenteou com uma hora de conversa e com o livro "Aventuras de Alice no Subterrâneo" transcrito por Adriana Peliano com fonte criada para imitar a caligrafia do professor Dodgson(Lewis Carroll). Estou certa de que meus alunos irão amar. Fiquei muito honrada por ser convidada a sua mesa e poder contar-lhe um pouco do meu trabalho com literatura infanto-juvenil. Assim que me sentir mais disposta conto sobre o que aprendi com os nove professores que se apresentaram no evento.

Aprendi isso na Jornada sobre a pós história

O imperativos de Heinz von Foerster, um dos fundadores da Cibernética, amigo de Humberto Maturana:

O Imperativo Ético: Aja sempre de modo a aumentar o número de possibilidades/escolhas.  Aja sempre de modo a aumentar o espaço de liberdade dos outros. Aja de modo a expandir a liberdade dos outros. 

Ou ainda: construa um mundo cuja amplidão abrace, forneça espaço, legitime, o máximo dos modos de ser do outro, o máximo das visões, do mundo, dos sentidos do outro.

O Imperativo Estético: Se você desejar ver, aprenda como agir.

O teorema metafísico fundamental:  Apenas aquelas questões que são em princípio indecidíveis, nós podemos decidir.

Estive ontem no bairro Santa Monica, na Praça Economista, para conhecer a iniciativa do Prosa com Arte e fiquei muito feliz com o que pude experimentar. A iniciativa dos garotos e garotas da Escola de Belas Artes da UFMG leva obras e performances artísticas até as praças mais afastadas do corredor cultural de Belo Horizonte e lá se apresentam e interagem com a comunidade. A exposição produz efeitos inusitados: curiosidade, fruição e principalmente encontro gratuito entre as pessoas da comunidade e exemplares da arte contemporânea. A forma como as crianças (seguidas depois pelos adultos) avançaram sobre o desenho feito no chão por um jovem artista (do qual me arrependo não ter perguntado o nome) foi apaixonante. Foi lindo ver tanta gente se fazendo artista naquele momento. 
Tudo isso me fez pensar em como é possível aplicar o que vem me ensinando Ricardo Aleixo sobre levar poesia e arte para longe do cenário célebre. Agradeço a Renan Bolcont pelo convite, a Augusto Hendricus Vossenaar pela atenciosa ciceronagem e a todos os jovens artistas presentes pela disposição. Força nessa empreitada meninas e meninos. Este é o caminho.
E se eu executar uma dança que te faça  desistir de apenas olhar debaixo da saia da bailarina?

N. S. L. 

domingo, 3 de março de 2013



Estive ontem no Instituto Helena Greco para participar do debate com Carlos Latuff e Nilson Azevedo sobre " Arte como instrumento de luta social e politica". Por quatro horas conversamos sobre esse tema. Foi muito impactante para mim. Tudo que os dois cartunistas defendem vem de encontro com o que eu venho pensando acerca de arte. Segundo eles não dá para ficar apenas no apelo estético. É preciso produzir, concomitante, uma arte que sirva ao combate de toda e qualquer opressão. Nilson falou abertamente sobre sua decepção com os artistas que debandaram para esquerda ( Angeli, Caetano Tom Zé etc.) 
Os dois artista fizeram criticas ferozes ao que eles chamam de pseudo empoderamento a partir de movimentos como Afroreggae e Tambores de Minas que usam das imagens das comunidades para exercer controle social. Apontaram ainda as oligarquias das famílias donas da mídia como um grande problema que contribui para manter a população em coma (ingerem a tal da pílula vermelha, como disse Latuff). 
Latuff, acusado de anti-sionista pela mida explicou a situação Israel X Palestina (finalmente eu pude entender) a partir do ponto de vista de alguém que foi e viu o que acontece. Falou sobre a diferença entre questão étnica e questão politica e disse ainda que EUA e Israel fomentam essa discussão do sionismo para mascarar o domínio no oriente e a venda de armas. Assegurou que ele faz não o torna contrário aos judeus, suas charges denunciam sim a colonização da Palestina por Israel. 
Todos dois deixaram claro que um cartunista não deve ser canalha, fazer humor gratuito. Segundo eles um cartunista deve dizer a verdade com humor. 
Saí de lá emocionada, com mais uma bandeira fincada em minha alma, A ARTE ENGAJADA.