é verdade que odeio a barbie
mas teria amado se você tivesse
sobrevivido à cirurgia de estômago
e se tornado uma droga de uma barbie
entendi que não há saída
há quem ganhe e há quem perca
quem ganha nem sempre são os bons
estou pronta para viver com isso
também estou pronta para herdar
as avencas de minha mãe
continuo achando o amor impossível o mais bonito
mas hoje é trinta e um de dezembro
e eu queria muito acreditar em um mundo
em que os bons ganhassem, e vivessem para sempre
NSL
31/12/13
terça-feira, 31 de dezembro de 2013
domingo, 29 de dezembro de 2013
Para o Vitor Heringer me aceitar no facebook
você tem cinco dias para me convidar para um inferninho
você tem quatro dias para me servir um drink flamejante
você tem três dias para ir comigo à um show de jovens nus com suas toalhas esvoaçantes
você tem dois dias para correr pelado comigo
você tem um dia para me aceitar no facebook
se apresse baby, estou com os dias contados
NSL
29/12/13
você tem quatro dias para me servir um drink flamejante
você tem três dias para ir comigo à um show de jovens nus com suas toalhas esvoaçantes
você tem dois dias para correr pelado comigo
você tem um dia para me aceitar no facebook
se apresse baby, estou com os dias contados
NSL
29/12/13
nativa
a mãe da mãe da minha mãe foi pega no laço
a mãe da minha mãe foi pega no laço
minha mãe foi pega no laço
eu, por precaução
perambulo nua em pelo
NSL
29/12/13
a mãe da minha mãe foi pega no laço
minha mãe foi pega no laço
eu, por precaução
perambulo nua em pelo
NSL
29/12/13
sexta-feira, 27 de dezembro de 2013
concessão
ouça o chamado da loba
é igual para todos os homens
possua cada orifício
com amor
ou com violência
mas que não se ouça
nem um gemido
que não seja permitido
nem um gemido
que não seja permitido
NSL
27/12/13
é igual para todos os homens
possua cada orifício
com amor
ou com violência
mas que não se ouça
nem um gemido
que não seja permitido
nem um gemido
que não seja permitido
NSL
27/12/13
flores tem hora para dormir
sem saca-rolhas, fracasso
em quebrar o bico da garrafa
ou cortar o fio da vida
ela me chama de "flor da minha vida"
conta o sonho dos canibais
diz que sonhos são só as coisas que a gente sente
e o que a gente sente é só uma parte de nós
daí lembra que dói mais não ficar
enxugo a água
que verte do rosto
do corpo, das paredes
das ruas, e embaixo das rodas
mastigo o último pedaço de picles
e tomo água com gelo
porque flores tem hora para dormir
NSL
27/12/13
em quebrar o bico da garrafa
ou cortar o fio da vida
ela me chama de "flor da minha vida"
conta o sonho dos canibais
diz que sonhos são só as coisas que a gente sente
e o que a gente sente é só uma parte de nós
daí lembra que dói mais não ficar
enxugo a água
que verte do rosto
do corpo, das paredes
das ruas, e embaixo das rodas
mastigo o último pedaço de picles
e tomo água com gelo
porque flores tem hora para dormir
NSL
27/12/13
a pele é o palimsesto do amor
pela terceira vez amou
(se contasse a paixão pelo
professor de matemática
aos doze seria a quarta)
tatuou do lado esquerdo
do ombro bem abaixo
do esterno, em gótico
o nome do amor
amou pela quarta vez
(ou seria quinta?)
tatuou um gato preto
sobre o nome do amor
com gatos o lance é outro
amor eterno é para cães
NSL
27/12/13
(se contasse a paixão pelo
professor de matemática
aos doze seria a quarta)
tatuou do lado esquerdo
do ombro bem abaixo
do esterno, em gótico
o nome do amor
amou pela quarta vez
(ou seria quinta?)
tatuou um gato preto
sobre o nome do amor
com gatos o lance é outro
amor eterno é para cães
NSL
27/12/13
quinta-feira, 26 de dezembro de 2013
36 cores
Resolvia fácil. Meu anjo da guarda não bate. Bastava olhar. Podia ser uma bunda. Uma bunda grande mesmo, não das largas, mas daquelas que fazem voltas para fora, no ângulo da coluna. E lá vinha o anjo dar o ar da sua falta de graça. Não batia.
Não era despeito racional. Não mesmo. Era um jeito simples de resolver a ameça diante de bunda maior que a sua.
A partir daí surgia as sementes. Projetos de siliconagem. Então destinava um ódio avassalador à bunda e ao seu dono. Convertia este ódio em trabalho.
Dezesseis horas por dia, escovando alisando e pintando cabelos, juntando economias até poder pagar pela bunda perfeita.
Daí até o implante era um pulo. E ele surgia, quase sempre prefeito. Respeitado o período de repouso procedia o desfile na medina com a nova bunda.
A treta com o anjo estava resolvida e era possível ver os dois curtindo suas belas bundas nas baladas gay. Mãos ombros ao som das músicas da Rihanna.
Mirando os dois na pista eu sempre me perguntava que diabos levava um homem a querer ser o objeto de desejo de outro homem ostentando um belo pedaço de carne ao modo das mulheres. Homem é tão gostoso que dava para comer como homem mesmo.
No banheiro, lá pelas tantas, depois de beijos de línguas endoscópicos, era possível ouvi comentários carinhosos acerca do sonho do casamento oficial. E eu querendo gritar:
_ Hei guys, casamento é dormir juntos, o resto é lixo. Macho Alfa.Divórcio. Meus bens. Sai dessa. Vai trepar muito. O resto é marketing.
Mas não digo. Cada um. Cada um.
Tive uma caixa de lápis de cor de 36 cores que era a inveja da escola. Tá certo que já era ensino médio, mas eram 36 cores, cara. Esta é a inveja mais saudável que já presenciei. Nem uma cor igual. Era nisto que morava seu valor.
Aprecio quem consegue identifica o outro como legitimo outro na sua pot
potência, aprecio anjos da guarda que gostam de todo mundo, aprecio quem deseja exercer sua potência de variar, aprecio quem compreende que o amor não é casamento, apesar de ser ocasionalmente (oi eu aqui) e finalmente aprecio caixas de lápis com 36 cores pois elas são a maior evidencia que a beleza da vida está na diversidade.
potência, aprecio anjos da guarda que gostam de todo mundo, aprecio quem deseja exercer sua potência de variar, aprecio quem compreende que o amor não é casamento, apesar de ser ocasionalmente (oi eu aqui) e finalmente aprecio caixas de lápis com 36 cores pois elas são a maior evidencia que a beleza da vida está na diversidade.
Mas, se inveja for fodida mesmo, então não há recurso: economia, 16 horas de trabalho, lanternagem e pintura e divagem absoluta por que não há nada pior que recalque bate e volta.
Cabelada e golpe de bunda meu bem. Até a próxima ruga.
NSL
26/12/13
assolada
atrás de mim, veloz
uma rua de tijolos
se desfaz
sussurram uma ordem
_ morte, volte!
me pergunto
para qual morada?
NSL
26/12/13
quarta-feira, 25 de dezembro de 2013
Bom Dia Carol Souza
Não deu para ser em poesia, vai em prosa, viu?
Aos nove anos conheci uma Carolina, as mais linda da classe. Quis me chamar Carolina para ser bonita também. Cedo vi que não funcionaria. Então decidi o nome da minha primeira filha: Carolina.
Ter uma filha seria a oportunidade única de ser tudo que não fui: linda, discreta, delicada e circunscrita. E como um milagre você trouxe em si todas estas qualidades. Acho lindo ficar observando-as em você.
No entanto neste seu aniversário de 17 anos queria te dizer que, apesar dos meus sonhos infantis, você existe para ser o que veio para ser em potência, não para negar ou afirmar um desejo meu ou de seu pai.
Você é livre para existir como quiser. É você que escolhe princesa.
E o mais curioso é que eu acho que você já sabe disso.
Feliz Aniversário!
Te Amo!
Norma
segunda-feira, 23 de dezembro de 2013
domingo, 22 de dezembro de 2013
sábado, 21 de dezembro de 2013
trivial
ficar imóvel não adiantou
arrancar a vontade não adiantou
arrancar a pele não adiantou
a falta não parou de doer
a água, ah a água
estava podre
alucinei corpos boiando
minhas veias entumecidas
eram o único sinal de vida
restou esvaziar gavetas
lançar fora toda inútil erudição
agora goles diários de banalidade
serão o suficiente para sobreviver
NSL
21/12/13
arrancar a vontade não adiantou
arrancar a pele não adiantou
a falta não parou de doer
a água, ah a água
estava podre
alucinei corpos boiando
minhas veias entumecidas
eram o único sinal de vida
restou esvaziar gavetas
lançar fora toda inútil erudição
agora goles diários de banalidade
serão o suficiente para sobreviver
NSL
21/12/13
sexta-feira, 20 de dezembro de 2013
Acalanto
esmiucei a memória
à procura da palavra
chave que me interditou
e o silêncio sussurrou
uma canção inaudível
ousei inventar
uma palavra nova
acalento-a em meu colo agora
vou criá-la solta
no terreiro da maloca
NSL
20/12/13
à procura da palavra
chave que me interditou
e o silêncio sussurrou
uma canção inaudível
ousei inventar
uma palavra nova
acalento-a em meu colo agora
vou criá-la solta
no terreiro da maloca
NSL
20/12/13
quinta-feira, 19 de dezembro de 2013
sexta-feira, 13 de dezembro de 2013
a la bourdieur
desfilo orgulhosa
minha ignorância
hereditária
conformada
com a falta
de capital
cultural
afinal, minha mãe
desconhecia
a guerra fria
a contracultura
a ditadura
e a abertura
(e a falsa rixa
entre os Beatles
e os Rolling Stones)
milhares de livros
miríades de bites
de internet
não solucionaram
meu handcap
NSL
13/12/13
minha ignorância
hereditária
conformada
com a falta
de capital
cultural
afinal, minha mãe
desconhecia
a guerra fria
a contracultura
a ditadura
e a abertura
(e a falsa rixa
entre os Beatles
e os Rolling Stones)
milhares de livros
miríades de bites
de internet
não solucionaram
meu handcap
NSL
13/12/13
da improbabilidade do óbvio
minha amiga lê o destino nas cartas
com delicadeza desfia o futuro
entre os dedos
minha amiga gosta de ouvir de perto o sussurro do acaso
NSL
13/12/13
com delicadeza desfia o futuro
entre os dedos
minha amiga gosta de ouvir de perto o sussurro do acaso
NSL
13/12/13
benesse
com minhas mãos hábeis farei embrulhos bordados
embalarei meus pensamentos tenebrosos
(os mais desenfreados)
e os darei de presentes aos caridosos
que todos os dias me soterram
com suas receitas ingênuas de cura
afinal presente não se recusa
NSL
13/12/13
embalarei meus pensamentos tenebrosos
(os mais desenfreados)
e os darei de presentes aos caridosos
que todos os dias me soterram
com suas receitas ingênuas de cura
afinal presente não se recusa
NSL
13/12/13
quinta-feira, 12 de dezembro de 2013
Cor de Carmim
Naquele tempo um bando de retardatários do ensino médio noturno lotava os bares do centro nas sextas à noite.
Ainda se chamava segundo grau.
Os dois engataram uma conversa, tomaram vodca com almôndegas e depois foram transar e fumar maconha num motel barato da avenida Paraná.
Ela fazia loucuras na cama, dizia que era ninfo.
Ela fazia loucuras na cama, dizia que era ninfo.
Saíram juntos por mais de um ano.
Na formatura ela já estava grávida.
Decidiram dar um tempo nas drogas e morar juntos.
Compraram um abajur cor de carmim igual ao do motel do centro.
No aniversário de cinco anos do filho ela contou que nunca havia gozado. Na formatura ela já estava grávida.
Decidiram dar um tempo nas drogas e morar juntos.
Compraram um abajur cor de carmim igual ao do motel do centro.
Os dois choram tanto que as lágrimas inundaram o barraco.
Até hoje quando chove eles se lembram daquele dia.
NSL
12/12/13
natural
uma fúria selvagem
espreita em mim
a fim de sufocar
a servilidade mamífera
a servilidade mamífera
inscrita nos genes
código de mãe
dos vínculos do mundo
sob a pele domesticada
e olhos sorridentesa qualquer momento
a mãe natureza emergirá
tsunami, tempestade, vulcão
terremoto, avalanche, tufão
(disparados tais acidentes
seria uma boa ideia
não cruzar o meu caminho)
NSL
12/12/13
quarta-feira, 11 de dezembro de 2013
Toda vida é isto
toda vida é isto
flanar deslumbrando a vitrines
cruzando as esquinas
provando toda sorte de gostos
depois recuar
tangendo esse carrinho de mão
recolhendo os restolhos
que ficaram pelo chão
toda vida é isto
este ir e voltar sem fim
cada vez mais curva
cada vez mais turva
NSL
11/12/13
flanar deslumbrando a vitrines
cruzando as esquinas
provando toda sorte de gostos
depois recuar
tangendo esse carrinho de mão
recolhendo os restolhos
que ficaram pelo chão
toda vida é isto
este ir e voltar sem fim
cada vez mais curva
cada vez mais turva
NSL
11/12/13
terça-feira, 10 de dezembro de 2013
só posso gritar
ou estão de joelhos
e felam toda forma de poder
ou estão de fora
e lançam olhares esverdeados
aos que estão ajoelhados
eu perfuro com flechas
meus joelhos e olhos
NSL
10/12/13
e felam toda forma de poder
ou estão de fora
e lançam olhares esverdeados
aos que estão ajoelhados
eu perfuro com flechas
meus joelhos e olhos
NSL
10/12/13
domingo, 8 de dezembro de 2013
Cativa
desde que nasci
ela mora no meu nome
dama normativa
legisladora odiosa
esta noite foi aprisionada
enviada aos calabouços
dama assassina
ladra de vida
dia de festejos
teço amuletos
enfeito a casa
sarau de sonhos
meu príncipe
o cavaleiro amável
já chegou
sorri diante de mim
ele ama ver-me livre
vigiem os portões, soldados
que essa dama é sorrateira
desliza entre as grades
e duvida, pode estar de volta
não soubesse eu que sou todos
os nobres e súditos do palácio
convocava os sensores
enviava até a masmorra
e quebrava o pescoço
desta dama ordinária
NSL
08/12/13
ela mora no meu nome
dama normativa
legisladora odiosa
esta noite foi aprisionada
enviada aos calabouços
dama assassina
ladra de vida
dia de festejos
teço amuletos
enfeito a casa
sarau de sonhos
meu príncipe
o cavaleiro amável
já chegou
sorri diante de mim
ele ama ver-me livre
vigiem os portões, soldados
que essa dama é sorrateira
desliza entre as grades
e duvida, pode estar de volta
não soubesse eu que sou todos
os nobres e súditos do palácio
convocava os sensores
enviava até a masmorra
e quebrava o pescoço
desta dama ordinária
NSL
08/12/13
sexta-feira, 6 de dezembro de 2013
auto encantamento
Há cada resposta errada
para a vida
da casa
minha mãe gritava
_ Retardada!
Quis negar a sina
fiz a cabeça funcionar
apressada
Fatigada
viro bicho
lagartixa
corpo inerte
auto encantada
NSL
06/12/13
para a vida
da casa
minha mãe gritava
_ Retardada!
Quis negar a sina
fiz a cabeça funcionar
apressada
Fatigada
viro bicho
lagartixa
corpo inerte
auto encantada
NSL
06/12/13
quinta-feira, 5 de dezembro de 2013
Canção para acordar
a voz para
a voz paralisada
desde os avós
pela civilização
acorda
velha índia
desata o laço
da falsa domesticação
NSL
05/12/13
a voz paralisada
desde os avós
pela civilização
acorda
velha índia
desata o laço
da falsa domesticação
NSL
05/12/13
quarta-feira, 4 de dezembro de 2013
Sutura
Alguns poetas escrevem como se jogassem trisca ou bolinha de gude. Buscam o alvo, brincam. Invejo tal escrita. Pouco sei brincar. Costuro feridas.
NSL
04/12/13
esquizofrenia
bombardeio pontes
imóvel
nunca tive lugar
chamado casa
gigolô de sonhos
insone
só outro nome
me salva
NSL
04/12/13
imóvel
nunca tive lugar
chamado casa
gigolô de sonhos
insone
só outro nome
me salva
NSL
04/12/13
terça-feira, 3 de dezembro de 2013
segunda-feira, 2 de dezembro de 2013
domingo, 1 de dezembro de 2013
temporã
com oito anos
dei o primeiro beijo
chamava-se Natal
o menino que beijei
bastou um dia
para ele confiscar
o anel presenteado
e passá-lo carinhosamente
à próxima namorada
Natal inaugurou
décadas de rejeição
NSL
01/12/13
dei o primeiro beijo
chamava-se Natal
o menino que beijei
bastou um dia
para ele confiscar
o anel presenteado
e passá-lo carinhosamente
à próxima namorada
Natal inaugurou
décadas de rejeição
NSL
01/12/13
ambígua
para a alcova do noivos
toda promessa fracassa
minhocas brotam
das plantas dos pés
vagina inútil das violetas
jangadas são deriva
e milagres, enfermidades
NSL
01/12/12
sábado, 30 de novembro de 2013
Ambiguidade
no Muro do Sartre
ela conheceu Lucien
passou a curtir
sexo anal
ela conheceu Lucien
passou a curtir
sexo anal
sentia-se
macho
macho
NSL
30/11/13
A memória dos cachorros
não acredito na memória
nem na minha nem na de ninguém
cachorros sim, podem contar histórias
eles estiveram presentes
nos momentos mais importantes
estavam comigo
quando aprendi a brincar
presenciaram meu primeiro
banho de chuva deliberado
contrariados, é preciso dizer
e foram os cachorros
os primeiros a me contar
sobre a morte
NSL
30/11/13
Remanescente
unhas feridas na queda
não evitam o desamor
mas de nada vale o rancor
no final, é nos braços
que levamos nossos pais
NSL
30//11/13
perfume de periferia
e nunca desistem
principalmente
dos que tem seus nomes
em letras de canções
poetas não se matam mais
já não estão sozinhos
amor vagabundo é vicio
basta um gole
mais vale a felicidade fácil
churrasco ao meio dia
cerveja na calçada
música cafona
e crianças ao redor
poetas sofrem e choram
contemplam de longe
o amor perdido
irritantemente feliz
sem esquecer que
apesar da bela grama
todo mundo é castrado
NSL
30/11/13
sem esquecer que
apesar da bela grama
todo mundo é castrado
NSL
30/11/13
sexta-feira, 29 de novembro de 2013
composição
mergulhar na infância
e mirar com graça
mãozinhas
e joaninhas em fuga
na horta
o canto da cigarra
abafado pelos gritos
do pai e da mãe
na cozinha
ah, manoel de barros
me ensina a inventar
memórias felizes?
NSL
29/11/13
e mirar com graça
mãozinhas
e joaninhas em fuga
na horta
o canto da cigarra
abafado pelos gritos
do pai e da mãe
na cozinha
ah, manoel de barros
me ensina a inventar
memórias felizes?
NSL
29/11/13
Gorado
diziam ser o pequeno Diego
filho do Cirilo, um caminhoneiro
que se meteu a bodegueiro
o olhar romântico do povinho
achava o rosto e a crânio do guri
escarrado e cuspido os do vendeiro
até que a mãe apresentou como pai do miúdo
um ex-presidiário proxeneta e fanfarrão
sem honra nem disposição
o povo da cidade perdeu o fascínio
e o Cirilo seguiu seus negócios com a família
se servindo da mãe - e do menino
NSL
29/11/13
filho do Cirilo, um caminhoneiro
que se meteu a bodegueiro
o olhar romântico do povinho
achava o rosto e a crânio do guri
escarrado e cuspido os do vendeiro
até que a mãe apresentou como pai do miúdo
um ex-presidiário proxeneta e fanfarrão
sem honra nem disposição
o povo da cidade perdeu o fascínio
e o Cirilo seguiu seus negócios com a família
se servindo da mãe - e do menino
NSL
29/11/13
quarta-feira, 27 de novembro de 2013
Inflamação
de dez em dez anos queimo cartas
mas há pontos costurados e visíveis
cicatrizes de amor nunca somem
ah, este amores perdidos
capazes de lavar e pentear-me os cabelos
como quem cuida de um ancião
nunca tocam minha pele febril
tantos cuidados, assepsia
e eu a espera de arranhões
NSL
27/11/13
mas há pontos costurados e visíveis
cicatrizes de amor nunca somem
ah, este amores perdidos
capazes de lavar e pentear-me os cabelos
como quem cuida de um ancião
nunca tocam minha pele febril
tantos cuidados, assepsia
e eu a espera de arranhões
NSL
27/11/13
Sinais de fumaça
nem toda manhã é amor
dividimos o querer
ora eu, ora você
anos a fio
te esperando dizer
hoje leio signos
o abraço trêmulo
é a senha do desejo
a sombra silente no rosto
demanda precaução
sem violência
recolho cada grão
das memórias
que calaram tua palavras
de amor
e de medo
NSL
27/11/13
dividimos o querer
ora eu, ora você
anos a fio
te esperando dizer
hoje leio signos
o abraço trêmulo
é a senha do desejo
a sombra silente no rosto
demanda precaução
sem violência
recolho cada grão
das memórias
que calaram tua palavras
de amor
e de medo
NSL
27/11/13
Silente
como não amar
sua curva na coluna
um corpo que recua
e interroga ao mundo
te amo como espelho
por ser aquela que
até na forma
deseja aprender
e te amo pelo caráter
insolúvel, puro
garota serena
autêntica
Lorena
NSL
27/11/13
sua curva na coluna
um corpo que recua
e interroga ao mundo
te amo como espelho
por ser aquela que
até na forma
deseja aprender
e te amo pelo caráter
insolúvel, puro
garota serena
autêntica
Lorena
NSL
27/11/13
terça-feira, 26 de novembro de 2013
Crepúsculo
[Luciano Candisani]
às horas: dezoito
dezembro de mês de tornados
sobre a cabeça
no colo
um corvo amarelo chora
acalante-o
uma sombra avança
sobre a réstia de sol
mergulhe
feche a porta
para o absurdo
do mundo
confie
a poesia te trará a tona
às horas: dezoito
dezembro de mês de tornados
sobre a cabeça
no colo
um corvo amarelo chora
acalante-o
uma sombra avança
sobre a réstia de sol
mergulhe
feche a porta
para o absurdo
do mundo
confie
a poesia te trará a tona
Aboio
[Adam Jahiel]
rápido e rasteiro
o poeta
laça palavras
nas pastagens
do pensamento
palavras são os bois do poeta
NSL
26/11/13
Transgressão
sempre que eu brincava na rua a mãe me batia
agora é na rua que eu invento a desobediência
brincando de poesia
NSL
26/11/13
brincando de poesia
NSL
26/11/13
segunda-feira, 25 de novembro de 2013
Deusa de festim
[Fabio Fabbi]
ando cansada de ser mater dolorosa
uma miríade de deusas da fertilidade
só para gente padecer no paraíso
que falta me faz uma deusa de festim
na próxima maternidade juro que perco o juízo
e trato de parir um tamborim
NSL
25/11/13
ando cansada de ser mater dolorosa
uma miríade de deusas da fertilidade
só para gente padecer no paraíso
que falta me faz uma deusa de festim
na próxima maternidade juro que perco o juízo
e trato de parir um tamborim
NSL
25/11/13
era uma menina triste
era uma menina triste
conversava com muros e grades
comia folhas nos cantos úmidos do quintal
a fome havia roubado
seu lugar de corpo alimentado
era uma menina triste
companheira íntima da raiva
sem amigos de verdade
a violência havia roubado
sua capacidade de ser tocada
era uma menina triste
rodeada por homens maduros
barganhava amor por sexo inseguro
faltava o que o incesto havia roubado
seu nome na família
sobrinha, irmã, filha
NSL
25/11/13
refluxo
um palco de dois palmos
num átimo sou hilda, adélia, virginia
costuro bordas, desvendo o vazio
irmano com uma gangue
de amantes das palavras
eu não sabia que existia
esta qualidade de alegria
sutil, destilada, volátil
capaz de escorrer
por dias sob a pele
resto de orgasmo
fosse a vida um sarau
eu acolhia feliz
o nascer ao avesso
em que se converteu
minha existência
NSL
25/11/13
num átimo sou hilda, adélia, virginia
costuro bordas, desvendo o vazio
irmano com uma gangue
de amantes das palavras
eu não sabia que existia
esta qualidade de alegria
sutil, destilada, volátil
capaz de escorrer
por dias sob a pele
resto de orgasmo
fosse a vida um sarau
eu acolhia feliz
o nascer ao avesso
em que se converteu
minha existência
NSL
25/11/13
domingo, 24 de novembro de 2013
Amuleto
Estou costurando bordas para fazer um poema-patuá.
A agulha e linha é a alegria que ganhei num sarau.
NSL
24/11/13
sábado, 23 de novembro de 2013
Estive ontem no Bar do Bozó, no Barreiro, para desfrutar mais um sarau com a galera do Coletivoz Sarau de Poesia, Sobrenome Liberdade, Sarau Vira Lata e Poetas Ambulantes. Para estar lá contei com a logística e generosidade de Debora Antoniasi del Guerra, uma das amigas caras que fiz nos encontros do Coletivoz.
Como sempre volto enebriada e convicta de que ninguém segura a poesia quando o veículo é o sarau. Encontro sublime de poetas e cronistas da vida que vivem da borda, pra borda, e na borda. É foda assistir a carícia da literatura na cara do Rap solto na voz de meninos e meninas do repente. Fiquei maravilhada com a dinâmica poética do pessoal de São Paulo, performance poética das ruas e dos ônibus em SP.
Mais uma vez constatei o óbvio, somos nós que fazemos a nossa mídia. E ela funciona por que faz valer a politica do encontro. Aprova disso foi o Bar do Bozó lotado - e a propósito é preciso dizer que o Bozó é um poeta fera.
Muito obrigada a todos que tornaram este encontro possível. É este amor que enche meu copo vazio. Dokttor valeu a companhia. Você tem razão: é uma oração.
NSL
23/11/13
quinta-feira, 21 de novembro de 2013
Inveja
entre a madeira morta do assoreado
seis capivaras descansam
despretensiosas
compõem o crepúsculo vespertino
plácidas como a água
NSL
21/11/13
seis capivaras descansam
compõem o crepúsculo vespertino
plácidas como a água
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21/11/13
Constatações
cinco segundos e o pensamento muda;
quatro décadas e corpo ensina;
três voltas pelo universo;
duas doses extras de lítio;
um século e a ciência mostra que é mágica.
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21/11/13
quatro décadas e corpo ensina;
três voltas pelo universo;
duas doses extras de lítio;
um século e a ciência mostra que é mágica.
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21/11/13
quarta-feira, 20 de novembro de 2013
Quanto cabe no vazio
o dia de arrancar as coisas chegou
o caminhão está à porta
comece encaixotando tudo que é solto
e arrancando os móveis do lugar
arranque os quadros
pregos, parafusos
arranque telhado, a tinta das paredes
as paredes
o piso, toda a casa
arranque as árvores e o jardim
agora varra o terreno
certifique-se que nem pele, nem pelo
ficou, de quando você amou
e arranque-se
um buraco
no chão batido do lugar
é o que deve ficar
NSL
20/11/13
o caminhão está à porta
comece encaixotando tudo que é solto
e arrancando os móveis do lugar
arranque os quadros
pregos, parafusos
arranque telhado, a tinta das paredes
as paredes
o piso, toda a casa
arranque as árvores e o jardim
agora varra o terreno
certifique-se que nem pele, nem pelo
ficou, de quando você amou
e arranque-se
um buraco
no chão batido do lugar
é o que deve ficar
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20/11/13
Coisas
Coisas se cansam de nós
umas quebram
outras costumam
se esconder
(dada a proximidade,
óculos principalmente)
coisas gostam de escolher
NSL
20/11/13
umas quebram
outras costumam
se esconder
(dada a proximidade,
óculos principalmente)
coisas gostam de escolher
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20/11/13
terça-feira, 19 de novembro de 2013
querido deus
querido deus
eu queria voltar no tempo em que
meu pai e minha mãe eram pequeninos
para brincar com eles de família
mas deus, preciso de proteção nessa empreitada
temo que vaze o dreno de dor
que levo no lado esquerdo o corpo
temo que derrame-se e azede a brincadeira toda
algo que poderia ser fatal para à minha existência
NSL
19/11/13
eu queria voltar no tempo em que
meu pai e minha mãe eram pequeninos
para brincar com eles de família
mas deus, preciso de proteção nessa empreitada
temo que vaze o dreno de dor
que levo no lado esquerdo o corpo
temo que derrame-se e azede a brincadeira toda
algo que poderia ser fatal para à minha existência
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19/11/13
segunda-feira, 18 de novembro de 2013
diapasão
quando a alegria chegar
vou soltar os bichos
animais-jardineiros
é preciso dizer
o gafanhoto
o beija-flor
a formiga
a abelha
a cuíca
a cotia
vou aspergir
um arco-iris
reverberar
diapasão
por enquanto não
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18/11/13
vou soltar os bichos
animais-jardineiros
é preciso dizer
o gafanhoto
o beija-flor
a formiga
a abelha
a cuíca
a cotia
vou aspergir
um arco-iris
reverberar
diapasão
por enquanto não
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18/11/13
moralidade da pedra
passo os dias instalando a letargia
acho o tédio melhor que o ódio
a imobilidade das horas
escorre minha crueldade
afaga meus monstros
o rancor é um câncer bem guardado
a espreita e a culpa, uma voz doce
sussurrando continuamente
sente culpa, é boa
No entanto nada muda o óbvio
são odiosos os que eu deviria amar
é patética minha fantasia de bondade
NSL
18/11/13
acho o tédio melhor que o ódio
a imobilidade das horas
escorre minha crueldade
afaga meus monstros
o rancor é um câncer bem guardado
a espreita e a culpa, uma voz doce
sussurrando continuamente
sente culpa, é boa
No entanto nada muda o óbvio
são odiosos os que eu deviria amar
é patética minha fantasia de bondade
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18/11/13
Adesivos anti-escrita não curam problemas de vista
escrever e esperar que alguém desmonte meticulosamente o que se escreveu a procura de símbolos ocultos.
escrever e esperar que alguém sinta-se inspirado a escrever.
escrever e guardar na esperança de que um dia alguém leia.
escrever e queimar por medo que alguém leia.
escrever e postar.
só escrever.
escrever.
reler
escrever e esperar que alguém sinta-se inspirado a escrever.
escrever e guardar na esperança de que um dia alguém leia.
escrever e queimar por medo que alguém leia.
escrever e postar.
só escrever.
escrever.
reler
rever.
viver.
ver.
ê vicio besta.
ver.
ê vicio besta.
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17/11/13
sábado, 16 de novembro de 2013
Ode
quis escrever este poema
para todxs xs meninxs
do quinto e do sexto anoxs dedicadxs,
estudiosxs,
xs bagunceirxs,
mimadxs,
brancxs
pretxs
todxs xs meninxs
do quinto e do sexto ano
xs obcecadxs
pela rua
naruto
desenho
grafitti
pipas
flores
pedras
vermelhas
de itabira
todxs xs meninxs
do quinto e do sexto ano
estão
nestes
versos
que não vão ser lidos
em sala
na última aula
de sexta - que é
quando
todxs os meninxs
surtam
perdem a calma,
mordem o lápis, a caneta,
mastigam
borracha,
agarram
os cabelos
do desespero
e metade deles
boceja (boca aberta
e felina
comendo
o tédio que
engole os corredores,
as escadas,
os professores, cantina)
neste momento
vão ler
potter, mitologia
- quem quer
que seja: cecília - adélia
mas este poema, não,
ele é daqueles
meninxs do quinto e sexto ano
que negociam balinhas,
beijinhos,
bijuterias,
- matam
as aulas, riscam
as cadeiras, confessam
nas portas
do banheiro: que vergonha,
não sei contar ou
porque o marcelo
não gosta de mim
meu pai não me dá
um playstation
odeio a professora de francês,
sinto falta do meu avô,
não gosto, detesto
meu nariz
não consigo passar
em português: e vocês?
este poema
é de todxs xs meninxs
do quinto e do sexto ano:
pelo menos daquelxs
que leem poemas
vocês vão aprender
crescer
fazer poemas
escrever livros
e eu não vou ver
que pena
NSL
16/11/13
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