segunda-feira, 7 de abril de 2025

Cartografia da Espera

Eu tinha me esquecido que o tempo tem suas próprias estações.
Mesmo quando a pressa aperta o peito, há algo de bonito em esperar.
O afeto também é construção lenta, como um jardim em pleno outono, repletos de jasmins. Afeto que não teme o frio da noite,
porque sabe: a seiva já corre por dentro, invisível aos olhos apressados.

A distância é assim também — parece um vácuo, mas na verdade, é solo fértil.
Entre nós, há quilômetros que não sabem medir o que cresce em silêncio.
O que é um mapa, diante da bússola que carrego no peito?
Sigo, instintiva, como raiz que atravessa pedra, buscando umidade no subterrâneo do tempo.

Algumas presenças chegam miúdas, como sementes levadas pelo vento,
mas se instalam fundo, criando espaço onde antes havia só ausência.
De longe, você me habita como quem mora nas frestas do dia,
no intervalo entre as tarefas, na curva mais calma do pensamento.

Hoje, o que eu tenho é essa alegria silenciosa:
sentir que, mesmo sem tocar sua pele, seu nome faz morada nas minhas rotinas.
Que existe uma dança secreta entre nossos dias, uma correspondência que o mundo não vê.
E que as boas histórias, aquelas que valem ser vividas,
sempre encontram o caminho — mesmo quando as estradas se perdem,
mesmo quando a geografia parece não ajudar.
Há rotas que só o coração conhece.

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