caminho entre as pedras
e a água, e o lodo
e ouço os gritos
como na piada
do japonês
vai morrer
vi outro dia
o joão da mata
e o seu bando
correndo perigo
na cachoeira
e pareciam tão vivos
sabia que quase
morri um tanto de vezes?
viver é escolher
o risco
escolho um
chamado
francisco
de cinco anos
porque ele me abraça
sem máscara
e me ama
sem culpa
e se me julga
é por não ter
feito florir o cravo
da última vez
que veio me ver
pensei: entrei pra história
que bom que escolhi
ficar viva pra ser
a vovó das plantas
é triste assistir
o desfile diário
mil partidas
minha amiga espírita conta
segredos do além
ela diz: norma
quanto mais medo
e mais apego
mais triste o degredo
há dias que sou
o pato na copa
da árvore batendo
papo com a morte
francisco pergunta
desde a primeira frase
é agora que
o pato morre?
e por fim
e a tulipa?
ele ainda não sabe
há o risco
e o tributo
e de repente parece
que faz sentido
o eterno retorno
e a holotúria
da szymborska
morrer só um pouco
só um pouco
Uma vez eu li que a poesia é uma forma de morrer um pouco, um ensaio de morte, pra gente poder se preparar melhor para morrer.
ResponderExcluirPor muito tempo, nossa sociedade co seguiu deixar a morte lá fora, nos cemitérios, necrotérios, nos hospitais e asilos.
De repente, a morte rompe essas barreiras e passa a deitar com a gente, na cama, virada pra nós, com a cabeça apoiada no cotovelo, dizendo: "E aí, como vai?"