conto as flores da orquídea
sete, como os dias da semana
as pétalas, sua pele
cheirosas, viçosas e belas
até noventa dias em flor
tanto a ensinar ao amor
o seu e o meu universo
dois mapas traçados
em papel manteiga
que a gente desliza
para ver se encaixa
fronteira com fronteira
das seis às vinte e duas
hora máxima em que você avisa
"preciso dormir, amor"
qualquer estação da lua
para olhar e repetir, "amor"
o vocativo-fronteira
que a gente atravessou
quando decidiu que já era
subvertendo o sentido da gíria
amar e pensar que
a despeito das sombras
que ameaçam a nós e ao mundo
minha mente vai mais devagar
como a tartaruga do poema do manoel
que li através da massa translúcida
e enorme do strudel que você abriu
sobre a mesa, como faziam
as moças da áustria
quando estavam prontas para casar
o pensamento manso, você no banho
cantando "joão e maria"
sem óculos
você não me veria
que bom que seja assim
agora não é sobre mim
o pensamento também vai sereno
quando conto histórias
para te fazer dormir
daí você descreve
um roteiro preciso
que envolve frutas, vinho
danças e as canções da bethânia
e acorda a mulher em chamas
que mora em mim
você chegou e por um instante
me pareceu tão competente
para entender o tempo, essa entidade
a essência dos acontecimentos
então por favor me responda
quanto tempo é que demora
pra passar a sua ausência?
Lindo, lindo, lindo! Que declaração, que poema! Como sempre, o arremate é incrível e tira a gente do chão.
ResponderExcluirAmei as marcas de cotidiana intimidade, a leitura através da massa. Quantas inferências são possíveis! A transparência desse amor puro, novo, que se descobre e se maravilha. Um amor-criança. Os poemas, a música, tudo poesia, simplicidade e confidência. A delicadeza do amor que se descobre no decorrer desse tempo vulgar e ordinário que esconde em si as maiores belezas, pois é nesse mesmo tempo que vivemos e nos maravilhamos.