Na mesa da sala, minha irmã, minha mãe e minha filha organizam fotos polaróides antigas como quem embaralha cartas.
Exalam admiração, arrependimento e saudades como perfume.
Aridez, calor e fumaça e uma primavera tímida solapam intenções de ir a rua.
Minha filha ainda acredita na realidade das imagem.
Minha mãe um pouco decepcionada, mira aquilo tudo como um grande engodo. Ainda não se habituou ao envelhecimento. O que parece estranho para quem se habitou a inúmeras mudanças, a casa nova, ao marido novo (que de verdade é o mesmo que retornou depois de desaparecido por 23 anos).
Minha irmã se encanta com sua beleza nas fotos de praia e cachoeira.
Sentadas assim, emitindo sussuros contemplativos diante das imagens me fazem perguntar como conseguiram ignorar as adversidades camufladas nos pontos cegos, espaço invisível entre uma foto e outra.
A atividade se estende até a noite, quando as fotografias voltam para as caixas de sapato.
Minha irmã fez bem em preservar essas fotos, elas vão existir por mais tempo que nós.
Nossa! Que texto fodástico!
ResponderExcluirObrigada querido!
ResponderExcluir