terça-feira, 24 de setembro de 2019

Full hand

Na mesa da sala, minha irmã, minha mãe e minha filha organizam fotos polaróides antigas como quem embaralha cartas.
Exalam admiração, arrependimento e saudades como perfume.
Aridez, calor e fumaça e uma primavera tímida solapam intenções de ir a rua.
Minha filha ainda acredita na realidade das imagem.
Minha mãe um pouco decepcionada, mira aquilo tudo como um grande engodo. Ainda não se habituou ao envelhecimento. O que
 parece estranho para quem se habitou a inúmeras mudanças, a casa nova, ao marido novo (que de verdade é o mesmo que retornou depois de desaparecido por 23 anos).
Minha irmã se encanta com sua beleza nas fotos de praia e cachoeira.
Sentadas assim, emitindo sussuros contemplativos diante das imagens me fazem perguntar como conseguiram ignorar as adversidades camufladas nos pontos cegos, espaço invisível entre uma foto e outra.

A atividade se estende até a noite, quando as fotografias voltam para as caixas de sapato. 
Minha irmã fez bem em preservar essas fotos, elas vão existir por mais tempo que nós.

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