por que ama as coisas desse mundo
ela lava e passa uma infinidades de
calças e camisas e vestidos e
sacode obsessiva o pó da casa
espera pelo sussurro que, como
nos primeiros tempos, irá a seduzir
e possuir e desesperada perde a voz
e chora equívoca diante do bibelô
quebrado
a voz retorna em forma de um grito
desesperado na madrugada um
bramido de gjallarhorn e ela
o silencia pintando e repintando
as paredes de branco vivo em
solidariedade a assepsia que
a família tanto ama
ele ergue os pés ante o aspirador
escreve poemas e espera que
amanhã ela esteja menos atarefada
menos cansada para o servir
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