sexta-feira, 1 de setembro de 2017

mastigando as migalhas dos dias

por que ama as coisas desse mundo
ela lava e passa uma infinidades de
calças e camisas e vestidos e 
sacode obsessiva o pó da casa


espera pelo sussurro que, como 
nos primeiros tempos, irá a seduzir 
e possuir e desesperada perde a voz 
e chora equívoca diante do bibelô 
quebrado

a voz retorna em forma de um grito 
desesperado na madrugada um 
bramido de gjallarhorn e ela 
o silencia pintando e repintando 
as paredes de branco vivo em 
solidariedade a assepsia que  
a família tanto ama

ele ergue os pés ante o aspirador
escreve poemas e espera que 
amanhã ela esteja menos atarefada
menos cansada para o servir

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