já te contei do meu silêncio?
era insuportável o peso do mundo
em cada palavra
rasgar mapas poderia ser divertido
não perfurasse
irremediavelmente a rotina
já não quero ouvir
what changes when you change?
o que me aborrece na pergunta
é o que ela esconde
quantos quarteirões há
daqui até você?
outra vez em braços
que não são seus
amanheço
sábado, 30 de setembro de 2017
terça-feira, 26 de setembro de 2017
segunda-feira, 25 de setembro de 2017
risco
num restaurante vegetariano, desinteressadas
conversamos sobre a diferença da ideia
de bem e de mal na bíblia, no alcorão
e no popol vuh (uma churrascaria teria sido
melhor, a gente pensa, mas ninguém fala)
te conto que em sua juventude kierkegaard
era apelidado de "gaflen" porque espetava
as idiossincrasias dos amigos e conhecidos
você me explica sua opinião sobre o pecado
de betsabéia, o tendão de aquiles na história de
sören, divido meu açaí com você e me pergunto
quanto tempo ficarei acordada para ver
o quanto você é bonita quando dorme
quando é que nossas peculiaridades
nos afastarão, quando é que encontros
como esse acontecerão em outro plano
que não o da minha imaginação
esqueço aquele bambo da corda solta
no ar e salto para o susto do risco
penso, como toda mulher apaixonada, que
cortar os dedos nas folhas novas do livro
esquecer os óculos, as chaves já é um sinal
de começo em nossa história de amor
conversamos sobre a diferença da ideia
de bem e de mal na bíblia, no alcorão
e no popol vuh (uma churrascaria teria sido
melhor, a gente pensa, mas ninguém fala)
te conto que em sua juventude kierkegaard
era apelidado de "gaflen" porque espetava
as idiossincrasias dos amigos e conhecidos
você me explica sua opinião sobre o pecado
de betsabéia, o tendão de aquiles na história de
sören, divido meu açaí com você e me pergunto
quanto tempo ficarei acordada para ver
o quanto você é bonita quando dorme
quando é que nossas peculiaridades
nos afastarão, quando é que encontros
como esse acontecerão em outro plano
que não o da minha imaginação
esqueço aquele bambo da corda solta
no ar e salto para o susto do risco
penso, como toda mulher apaixonada, que
cortar os dedos nas folhas novas do livro
esquecer os óculos, as chaves já é um sinal
de começo em nossa história de amor
testemunha
presenciar um beijo adolescente
cinquenta e sete segundos
de beijo de língua
no corredor do CEFET
cinquenta e sete segundos
e entender o Kundera em "A insustentável leveza do ser"
" A sensualidade é a mobilização máxima dos sentidos: observa-se o outro intensamente, procurando captar seus menores ruídos."
2a versão
testemunho
[norma de souza lopes]
cinquenta e sete segundos
de beijo de língua
adolescente
no corredor
e aquela frase
que o Kundera falou
- a sensualidade é a mobilização
máxima dos sentidos:
observa-se o outro
intensamente, procurando
captar seus menores ruídos.
cinquenta e sete segundos
de beijo de língua
no corredor do CEFET
cinquenta e sete segundos
e entender o Kundera em "A insustentável leveza do ser"
" A sensualidade é a mobilização máxima dos sentidos: observa-se o outro intensamente, procurando captar seus menores ruídos."
2a versão
testemunho
[norma de souza lopes]
cinquenta e sete segundos
de beijo de língua
adolescente
no corredor
e aquela frase
que o Kundera falou
- a sensualidade é a mobilização
máxima dos sentidos:
observa-se o outro
intensamente, procurando
captar seus menores ruídos.
domingo, 24 de setembro de 2017
pergunta
ainda não era noite
quando algo em seus olhos
saltaram da tela
e suplicaram
"me escreve um poema de amor?"
(como se, sem amar,
isso fosse possível)
quando algo em seus olhos
saltaram da tela
e suplicaram
"me escreve um poema de amor?"
(como se, sem amar,
isso fosse possível)
sábado, 23 de setembro de 2017
nas estrelas
sejamos sinceros
se danço, canto, choro
ou faço poesia
estou em carne viva
carne
viva
é sempre uma busca
que faz sentir
mas não faz sentido
o que não significa dizer
que seria capaz de orbitar
um sistema que não fosse meu
Hercólubus tem seu gêmeo
o sol, ao acaso, aqui perto de nós
e transita noutra órbita
(é engraçado dizer "o sol, perto"
quando isso significa anos-luz)
cito a astrologia e me lembro
que pode parecer
insólito para as pessoas
comuns, no geral
legítima é a luz e o calor
e isso basta
queria mesmo era lembrar
um detalhe que virasse verso
neste poema para que
você se reconhecesse
mas não temos história
(arrepio só de imaginar
que me lê agora)
se danço, canto, choro
ou faço poesia
estou em carne viva
carne
viva
é sempre uma busca
que faz sentir
mas não faz sentido
o que não significa dizer
que seria capaz de orbitar
um sistema que não fosse meu
Hercólubus tem seu gêmeo
o sol, ao acaso, aqui perto de nós
e transita noutra órbita
(é engraçado dizer "o sol, perto"
quando isso significa anos-luz)
cito a astrologia e me lembro
que pode parecer
insólito para as pessoas
comuns, no geral
legítima é a luz e o calor
e isso basta
queria mesmo era lembrar
um detalhe que virasse verso
neste poema para que
você se reconhecesse
mas não temos história
(arrepio só de imaginar
que me lê agora)
intervalo
entre nós
a distância
e a dúvida
traço entre as palavras
como naquelas provas de história
nas quais quem acerta a resposta
presencia um pequeno milagre
segunda-feira, 18 de setembro de 2017
sábado, 16 de setembro de 2017
versos sobre acontecimentos
na periferia
também foge-se
da indigência da vida social
num churrasco na laje
há há tanta leveza e vínculo
quanto um cheeseburger
na esquina da julieta
algo me consome por dentro
e não é a dor
também foge-se
da indigência da vida social
num churrasco na laje
há há tanta leveza e vínculo
quanto um cheeseburger
na esquina da julieta
algo me consome por dentro
e não é a dor
se eu lhes puser a língua
deixaria o gueto
da poesia contemporânea?
deixaria o gueto
da poesia contemporânea?
quinta-feira, 14 de setembro de 2017
ombros
tudo porque quis
procurar no poema
o que escapa
ser medeia de amor
e rancor
(o ódio não é o contrário
companheiros talvez)
cada qual a seu modo
esconde crenças e medos
malogros impronunciáveis
imersos na mesma água
da agonia contemporânea
(a ironia é o novo
mal do século)
destilei entre os dedos
a carcaça de um dia
um dia inteiro, inútil
dói horrores
fosse o brotar de uma asa
eu nem chorava
procurar no poema
o que escapa
ser medeia de amor
e rancor
(o ódio não é o contrário
companheiros talvez)
cada qual a seu modo
esconde crenças e medos
malogros impronunciáveis
imersos na mesma água
da agonia contemporânea
(a ironia é o novo
mal do século)
destilei entre os dedos
a carcaça de um dia
um dia inteiro, inútil
dói horrores
fosse o brotar de uma asa
eu nem chorava
segunda-feira, 11 de setembro de 2017
XXXIV Ana Maria Oviedo Palomares Tradução de Norma de Souza Lopes
E quando enfim compreender que o amor bonito o tinhas comigo
Não servirá de nada
e não vou me importar
que te arranques a alma pensando em nossas noites,
que o despeito te feche as portas do mundo
cada vez que te beijem outros lábios,
que de tanto ansiar seu coração se torne uma pedra vermelha,
fera enjaulada,
como eu rogo agora.
Quando enfim compreender
terei conjurado seu nome,
e se não passar nunca,
pior para ti,
que tiveste a maravilha do fogo entre as mãos
e não te queimaste.
sexta-feira, 8 de setembro de 2017
só mais uma vez
tarelam sobre o que é ser
mulher as desvantagens do
feminismo como quem descreve
a experiência de fumar
sem arder no peito e nos
olhos a fumaça
ou como um letreiro em neon
um sol e uma palmeira na fachada
de um bar, numa noite escura
homem, silêncio
ser mulher, sentir o peso
desse legado
não é algo que se faça
sem ter sido marcado
pelos ferros atávicos
do patriarcado
mulher as desvantagens do
feminismo como quem descreve
a experiência de fumar
sem arder no peito e nos
olhos a fumaça
ou como um letreiro em neon
um sol e uma palmeira na fachada
de um bar, numa noite escura
homem, silêncio
ser mulher, sentir o peso
desse legado
não é algo que se faça
sem ter sido marcado
pelos ferros atávicos
do patriarcado
quarta-feira, 6 de setembro de 2017
domingo, 3 de setembro de 2017
daquele algo que saltou
faltava uma semana para me formar na quarta-série, num tempo em que se comemorava até a formatura do jardim de infância. eu girava nos pilares da varanda e jurava nunca me envergonhar do que eu era aos onze anos (deus, me pergunto todo dia, como pude adivinhar tão cedo? como pude?)
na casa ao lado um pai, uma mãe e um cachorro cuidavam de conduzir o protocolo da família feliz e dos três filhos bem sucedidos (certa vez ela me disse - você pensa que não mas todo mundo é castrado, a todos faltam algo - então porque a minha falta parecia cortar mais?)
vergonha e raiva, vergonha e raiva, cada uma segurando uma mão, me empurrando numa bicicleta com rodinhas - até acionar a máquina por dentro - que coisa maravilhosa esse carnaval do desejo - desatar o nó na garganta que a obrigação de ser completa, bonita, sábia e santa plantou em mim.
na casa ao lado um pai, uma mãe e um cachorro cuidavam de conduzir o protocolo da família feliz e dos três filhos bem sucedidos (certa vez ela me disse - você pensa que não mas todo mundo é castrado, a todos faltam algo - então porque a minha falta parecia cortar mais?)
vergonha e raiva, vergonha e raiva, cada uma segurando uma mão, me empurrando numa bicicleta com rodinhas - até acionar a máquina por dentro - que coisa maravilhosa esse carnaval do desejo - desatar o nó na garganta que a obrigação de ser completa, bonita, sábia e santa plantou em mim.
sexta-feira, 1 de setembro de 2017
mastigando as migalhas dos dias
por que ama as coisas desse mundo
ela lava e passa uma infinidades de
calças e camisas e vestidos e
sacode obsessiva o pó da casa
espera pelo sussurro que, como
nos primeiros tempos, irá a seduzir
e possuir e desesperada perde a voz
e chora equívoca diante do bibelô
quebrado
a voz retorna em forma de um grito
desesperado na madrugada um
bramido de gjallarhorn e ela
o silencia pintando e repintando
as paredes de branco vivo em
solidariedade a assepsia que
a família tanto ama
ele ergue os pés ante o aspirador
escreve poemas e espera que
amanhã ela esteja menos atarefada
menos cansada para o servir
ela lava e passa uma infinidades de
calças e camisas e vestidos e
sacode obsessiva o pó da casa
espera pelo sussurro que, como
nos primeiros tempos, irá a seduzir
e possuir e desesperada perde a voz
e chora equívoca diante do bibelô
quebrado
a voz retorna em forma de um grito
desesperado na madrugada um
bramido de gjallarhorn e ela
o silencia pintando e repintando
as paredes de branco vivo em
solidariedade a assepsia que
a família tanto ama
ele ergue os pés ante o aspirador
escreve poemas e espera que
amanhã ela esteja menos atarefada
menos cansada para o servir
Assinar:
Postagens (Atom)