Não tínhamos água em casa, lá fora chovia
Levamos os baldes e panelas
para encher com a chuva.
Sentados na calçada , esperávamos.
Parecia que a água inundava a rua, porém não os recipientes.
O ar, no entanto, entrava mais forte em nossos pulmões,
e era mais ar que o ar da casa,
era como água que não decidia
a encher-nos por dentro,
e se derramava pelos braços, umedecia a roupa
e resvalava até o pés como uma sombra.
Era lenta a generosidade da água.
Podíamos ver o fundo da panela,
de aço que parecia lentamente
encher de si.
A água tornou-se sólida e dura como o material que a abraçava
parecia ondular ao ir se preenchendo.
Respirávamos o ar com preguiça
enquanto sorríamos absorvidos pelos sons
que caiam fora do nosso silêncio.
A água acumulada era livre,
um só substância dentro do metal.
Transbordava e tivemos a satisfação de ver um corpo
sair de seus limites sem deixar de estar cheio ao transbordar
Também nós fomos recipiente,
cheios do som da água, respirando
o ar da chuva que não havia em nossa casa.
Nós miramos transbordar e sorrimos; éramos livres,
uma só substância cada um,
dois corpos de superfície generosa,
e no fundo de nós, a água própria
que ondulava o material do recipiente.
daqui ó http://www.laotrarevista.com/2010/08/nadia-escalante-merida-mexico/
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