terça-feira, 18 de julho de 2017

Nadia Escalante Andrade Não tinhamos água em casa, lá fora chovia Tradução de Norma de Souza Lopes

Não tínhamos água em casa, lá fora chovia
Levamos os baldes e panelas
para encher com a chuva.

Sentados na calçada , esperávamos.
Parecia que a água inundava a rua, porém não os recipientes.
O ar, no entanto, entrava mais forte em nossos pulmões,
 e era mais ar que o ar da casa,
era como água que não decidia
a encher-nos por dentro,
e se derramava pelos braços, umedecia a roupa
e resvalava até o pés como uma sombra.

Era lenta a generosidade da água.
Podíamos ver o fundo da panela,
de aço que parecia lentamente
encher de si.

A água tornou-se sólida e dura como o material que a abraçava
parecia ondular ao ir se preenchendo.
Respirávamos o ar com preguiça
enquanto sorríamos absorvidos pelos sons
que caiam fora do nosso silêncio.
A água acumulada era livre,
um só substância dentro do metal.
Transbordava e tivemos a satisfação de ver um corpo
sair de seus limites sem deixar de estar cheio ao  transbordar
Também nós fomos recipiente,
cheios do som da água, respirando
o ar da chuva que não havia em nossa casa.

Nós miramos transbordar e sorrimos; éramos livres,
uma só  substância cada um,
dois corpos de superfície generosa,
e no fundo de nós, a água própria
que ondulava o material do recipiente.

daqui ó http://www.laotrarevista.com/2010/08/nadia-escalante-merida-mexico/

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