A Flor de carrapicho
Passei algumas férias em Cordisburgo, na casa de uma prima chamada Zezé. Era uma época boa por que podia comer com fartura e ainda escapava das varadas da mãe.
A magia do tempo da infância fazia com que nós meninas acreditássemos nas histórias da avó. Ela contava que todos os bebês do mundo nasciam da flor amarela do carrapicho. Mas não éramos muito confiadas, queríamos empreender uma busca à tal flor que estivesse prenhe de uma criancinha.
Embrenhamos no mato por dois dias para procurar e nada encontrávamos. Estávamos achando a busca chata quando Zezé teve uma idéia: e se a flor tivesse crescido em cima de uma grande pedra que havia no meio do pasto?
Debaixo da pedra havia uma pequena caverna que era usada às vezes como espaço para ordenha das vacas. Olhando de baixo para cima era possível concluir que seria possível até secar café lá em cima.
Tive medo de subir mas Zezé, em seu habitat natural, determinada a achar a flor amarela com bebê dentro começou a se encarapitar na pedra. Com engenhosidade juntou dois bambus e já estava na metade da escalada quando escorregou e caiu estatelada em um poço de lama do tipo de areia movediça.
Corri desesperada pelo pasto chamando pelo meu tio. Tinha muito medo que a prima morresse soterrada naquela lama. Chegando na casa soube que o tio estava resolvendo um problema grave do qual ela não podia tomar conhecimento. A verdade era que justo neste momento a mãe de Zezé estava dando à luz e o pai é que era o parteiro.
O tio deixou as tias com a parturiente e saiu em disparada para socorrer Zezé. Com um pedaço de bambu puxou-a do soterramento de lama e levou-a até o monjolo para que ela pudesse se lavar.
Avisou que a Zezé que a mãe não podia saber do acidente por que estava doente. Meia hora depois, já em casa, nós duas ouvimos um sonoro choro de bebê.
Sentamos desconsoladas na escada da varanda e ficamos lançando pedras ao longe, mão no queixo, tentando adivinhar como a tia tinha chegado primeiro na flor amarela de carrapicho. Norma de Souza Lopes
Norma de Souza Lopes
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