domingo, 10 de outubro de 2010

Ruminando


Circular por Ribeirão por uma hora sem que se veja uma vaca é impossível. Ao dirigir pelas novíssimas ruas asfaltadas presenciamos as bovinas pastando nas avenidas sanitárias e caminhando pelos jardins ou várzeas municipais. 
As vacas são tão comuns nessa cidade que às vezes miramos as esculturas de concreto às portas dos açougues e quase sempre achamos que se trata de ruminantes vivas.
Penso que essa presença evoca nos moradores as mais diversas reflexões, bem ao gosto do freguês. Há aqueles que ansiosos com o progresso atribuem à presença das vacas nas ruas ao atraso político do distrito. Outros  encaram as mugintes como invasoras do recém-conquistado espaço urbanizado. Os carnívoros visualizam as mimosas salivado e conjecturando o esplêndido churrasco que poderiam experimentar.
A mim as vacas nevenses evocam outros pensamentos. Ao ver o balançar ritmados de suas ancas pelas ruas sou invadida por lembranças bucólicas de minha infância na Paraíba - São José das Piranhas para ser mais específica.
O município que cito possui esse  nome não por que tinha mulheres de vida fácil  (ou difícil, como queira) entre seus moradores, mas por ter possuído no passado vastos açudes de piranhas - o peixe.
Durante minha estadia na terra de José Lins do Rego pude experimentar uma relação muito próxima com esses animais. O espaço da rua de terra era  das  crianças e de toda sorte de animais. Cachorros, galinhas, bodes, vacas e infantes conviviam e brincavam de maneira  pacífica e feliz.
Ainda não  se falava em doenças com o frenesi que discutimos hoje e talvez por isso pudemos chegar tão perto desses animais domesticados.
Atualmente estamos limitando nosso convívio a uma pequena dúzia de pessoas. Nem de longe a relação é mais pacifica.

Norma de Souza Lopes

Um comentário:

  1. Eu vivi com muita intensidade essa infância em meio à natureza e aos animais. Quando íamos para a roça do meu tio, tinhamos que parar o jipe e esperar a "boa vontade" das vacas de se levantarem do meio da estrada para prosseguirmos viagem. Adorei esse texto bem bucólico e saudosista, Noema! Meu abraço e obrigado pela visita carinhosa. Paz e bem.

    ResponderExcluir