segunda-feira, 24 de março de 2025

De vidro

não é mais carne que se aproxima

é corte —

com rugas de cetim e dentes de açúcar


carrego um deserto em meus ouvidos

e elas vêm

com orações rotas

conchas quebradas

e uma pressa de se espelhar no que não fui


convidam

para encenar o pacto

os olhos cheios de nódulos

libido em mutação

gestos à míngua —

dançam em torno da fogueira do não dito

a língua enrolada no próprio umbigo


estou só

nem por isso exijo resgate

subo o galho mais torto da árvore

e faço dele meu altar

respiro entre líquens

acendo fósforos em minha própria boca.


desaprendi a gramática dos pedidos

inabitável

para quem só conhece o mapa

das carências urgentes


gozo negar a repetição

tranco a casa e a alma

os pés sujos do afeto doente


já não amo como quem implora

agora

acendo velas para deuses que não existem

e invento

a minha

liturgia



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