segunda-feira, 31 de março de 2025

cifrado

tua boca
soletra em mim
o idioma viscoso da pele

cada carícia
reconjuga verbos extintos
no feminino plural

no escuro, inventamos ficções
nossos corpos narram
em línguas censuradas

mestres na arte
de fraturar sintaxes
dedos decifram
o alfabeto da espinha

amar é possível

com a língua e os dedos
no sulco hermético
dos mapas
ocultos do corpo


segunda-feira, 24 de março de 2025

De vidro

não é mais carne que se aproxima

é corte —

com rugas de cetim e dentes de açúcar


carrego um deserto em meus ouvidos

e elas vêm

com orações rotas

conchas quebradas

e uma pressa de se espelhar no que não fui


convidam

para encenar o pacto

os olhos cheios de nódulos

libido em mutação

gestos à míngua —

dançam em torno da fogueira do não dito

a língua enrolada no próprio umbigo


estou só

nem por isso exijo resgate

subo o galho mais torto da árvore

e faço dele meu altar

respiro entre líquens

acendo fósforos em minha própria boca.


desaprendi a gramática dos pedidos

inabitável

para quem só conhece o mapa

das carências urgentes


gozo negar a repetição

tranco a casa e a alma

os pés sujos do afeto doente


já não amo como quem implora

agora

acendo velas para deuses que não existem

e invento

a minha

liturgia



sábado, 8 de março de 2025

Ser mulher

Ser mulher é ocupar espaço em um mundo que tantas vezes tentou nos conter. É transformar dor em potência, medo em coragem, silêncio em voz. É carregar histórias no corpo, no olhar, no riso.

Ser mulher é dança e resistência. É saber que a mudança acontece no movimento – na arte, no trabalho, nas ruas, no amor, na liberdade de ser quem somos sem pedir permissão. É desafiar padrões, reconstruir narrativas, criar novos caminhos para quem vem depois.

Hoje é dia de lembrar que não somos apenas uma data: somos todas as mulheres que vieram antes de nós e todas as que ainda virão. Somos a força que não recua, a beleza que não se limita, o futuro que não se apaga.

Que nosso passo seja firme, que nossa voz seja alta, que nossa presença seja inegável. Porque ser mulher é existir em potência todos os dias.