sábado, 7 de outubro de 2023

 - Estive lá, onde tudo começa. 

- E era como?

- Me sentia grata. E sabia qual era a raiz do mal.

- E qual era?

- Não eram os homens. Nem as mulheres.  O mal é querer controlar. Controlar o que acontece: na minha vida, na vida dos outros...

- Parece difícil.

- Eu vi meu pai. O rancor ao pai, ao pai do pai, morava no meio de seu peito. Eu estava lá, podia arrancá-lo. Era como se todo o mal que atravessa a vida dos homens da minha família estivesse naquela teia negra no plexo de meu pai. Podia, mas não devia. Não arranquei. Voltei em prantos, mas não arranquei. 

- Lá, onde começam homens e mulheres, você quis escolher uma natureza?

- Não, não precisava escolher. Não precisava pensar. Não precisava nem dizer nada. Lá onde tudo começa, eu só precisava ser. 

Um comentário:

  1. Nossa, que diálogo profundo e filosófico. Fiquei um pouco na superfície, enquanto pensava na teia no plexo do pai, no meio do peito dele, como um tufo de cabelos, mas que na verdade era uma teia, uma raiz... Que imagem forte, amiga. Beijo.

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