Fui ontem com uma amiga ao Teatro da Cidade assistir a peça "Arte", escrita pela dramaturga francesa Yasmina Reza, e dirigida por Sérgio Abritta. Em cena, por cerca de 1 hora e meia os personagens Sérgio ( Gustavo Werneck), Marcos ( Alexandre Toledo) e Ivan (Marcus Labatti) três amigos de longa data, conversam acerca da compra de um "quadro branco com listas brancas" por 100 mil reais.
Por trás do pretexto da discussão acerca do valor da arte contemporânea, o que temos são diálogos nos quais uma conversa civilizada degenera para uma circunstância de antipatia mútua e xingamentos. Ao final, o diálogo áspero corrói todo o verniz de respeitabilidade, burguesia presunçosa e o que fica é a uma conversa ácida, a pretensão hipócrita e o descuido emocional.
A convocação ao riso é mais que alívio cômico. Trata-se de um catalizador para o dissipar a angustia do espelhamento que nos toca, ou seja, a devastadora sensação de realidade diante da falsidade do verniz social e a selvageria que se encontra abaixo de nossa superfície.
A dramaturgia é ricamente construída também a partir da iluminação, da quebra da quarta parede e do deslocamento do cenário pelos atores. As peças de cena, inteiramente brancas, são transferidas continuamente marcando as mudanças de espaço.
Eu amei a peça. Ela me confrontou com a relação que estabeleço meu com verniz e minha selvageria. Me fez pensar como, no fundo, todos nós, humanizados, civilizados, estamos com os nervos partidos, carentes e prestes a explodir. Não que eu esteja aqui a fazer defesa ao que minha amiga Cristina chama de "sincericídio". É mais que isso. A peça me convidou a pensar em maneiras honestas de sai da superfície sem precisar machucar ninguém.
Recomento com louvor. Grata Fabóla Farias por me aplicar.
Também assisti e achei ótima. Fiquei a semana seguinte ponderando sobre a peça. E ao mesmo tempo fui percebendo como somos o contrário de tudo que a cultura ocidental nos fez acreditar. Somos seres repletos de fraturas em que o que perdemos é mais patente do que aquilo que conquistamos. E o que perdemos foi, principalmente, nós mesmos. Tudo pra continuarmos repetindo jargões que aprendemos. Por isso, sinto vontade de abraçar o Tao.
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