Tinha a visto e a fotografado mas não me dei por satisfeita. Aquele tom de azul não podia ser um espetáculo para meus olhos apenas.
Corri até ele contando, mostrando a foto, chamando para ver. Era uma libélula azul. E tinha ficado imóvel por tempo suficiente para que eu pudesse fotografá-la a poucos centímetros de distância.
A princípio ele resistiu, não queria ir. Estava mais interessado nos peixes que nosso amigo estava pescando. Mas cedeu e caminhou em direção ao pequeno córrego onde eu havia fotografado o inseto. Ele era assim. Não compreendia um terço das coisas que eu dizia, não acompanhava em nada como eu significava o mundo. Mas ia. Sempre ia.
Nos aproximamos do lugar onde estivera a libélula azul rápido o suficiente para vê-la sendo capturada pela língua rápida de um sapo.
Minha decepção era visível. Tão bonita e aniquilada assim tão rápido!
Aquilo me atravessou de maneira tão intensa que escrevi um poema logo que cheguei em casa.
libélulas azuis
vivem até quatro anos
seu voo, beleza, ovos
são uma promessa
onde pousa esta promessa
quando é mais rápida a fome
da ponta da língua viscosa de um sapo?
Hoje, enquanto relia um conto da Clarice Lispector chamado "Esperança", indicado pela professora da pós-graduação em Proleitura, para elaboração de uma fanfic, me lembrei desse poema e ele ganhou novos sentidos.
De mim também foram engolidas muitas promessas (casa, casamento, local de trabalho, rotina) e foi preciso me acostumar com a beleza do que ficou apenas na memória e as fotos.
A memória dói. A dor também pode ser uma memória. E talvez, por que doa, quer dizer que valeu a pena...
ResponderExcluirValeu 😍
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