domingo, 13 de dezembro de 2015

"Não podia imaginar quão feia são as pessoas" foi a primeira coisa que minha amiga disse, na segurança de casa, quando perguntaram se estava feliz com a cirurgia nos olhos. Talvez preferisse a beleza que via detrás de seus dezesseis graus de miopia. Será?
Sempre achei que não ser capaz de ver a distância afetava minha percepção cognitiva do mundo e minha relação com ele. A distância me entristece, assusta, me imobiliza. Procuro me manter sempre perto do meu universo particular e isso me impede de expandir.
Ser estrábica, caolha, como diziam os colegas de escola, eu sei que afeta. O ângulo de visão que ultrapassa os cento e oitenta graus às vezes me leva a ver, nas faces do entorno, a verdade que frontalmente elas não revelam. A visão dupla também é um ponto forte. Me ajuda a deslocar coisas e as pessoas, ver diferente e principalmente me colocar no lugar do outro.
Foi o Antonio Cícero que disse que, se os olhos são a janela da alma, como janela precisam de outros olhos, e outra janela e outros olhos... Por causa desse quadro infinito de olhos e janelas a alma seria tão insondável. Afora a parte insondável, componho minha capacidade de existir nesse mundo, com pouca visão à distância, com muita visão periférica e talvez, como minha amiga,  desejando ver menos. Ver demais pode ser uma experiência bem feia. 

NSL
113/12/15

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