quarta-feira, 30 de setembro de 2015

RESENHA DE “JULHO É UM BOM MÊS PARA MORRER” de Roberto Menezes – Editora Patuá

Concluí a segunda leitura de “Julho é um bom mês para morrer” e decidi fazer algumas considerações a título de aguçar o interesse dos curiosos. A protagonista da obra de Roberto Menezes, Laura, digita frenética e urgente, em discurso indireto livre, uma carta para sua mãe, Lucy, que a princípio descobrimos a abandonou ainda pequena. A carta é entremeada por outros endereçamentos, todos eles direcionados para mulheres que também a deixaram. Além de Lucy temos clamores direcionadas à Voínha, Tereza, Maria e Lara.
Laura busca continuamente um “colo” um sentido para a vida que, provavelmente formou-se em sua existência em decorrência da ausência ou negligência das mulheres que a deveriam tê-la educado.
A partir de seus relatos Laura descreve as brechas deixadas por essas perdas, rememorando como se estivesse mergulhado no inferno. A memória é o inferno e ela, sem asas, tem um chão infinito à sua espera.  Seu esforço sufocante de fechar tais brechas nos dá o recado, não há escape, é viver com o próprio vazio ou morrer. No rastro da narradora o leitor segue suportando esses desmoronamentos e tentativas de voo.
O livro é cuidadosamente datado o que, segundo Alfredo Monte d’A TRIBUNA de Santos é a maneira de Menezes pintar e bordar “ o retrato de uma geração, e sobrepõe sorrateiramente três momentos políticos distintos: o da abertura política (e inflação estratosférica); a era FHC e o tsunami da globalização (que coincide com a virada do milênio); a era pós-Lula.” Temos como exemplo cenas e trilhas de novela, citação de Edilaine Araújo como jornalista do Jornal da Paraíba, suicídio de bancários de Banco de Brasil em 1998, a morte de Voínha na Copa de 2002, dentre tantos outros.

Abaixo um gráfico da time line do livro elaborada pelo próprio autor.


São avanços e recuos narrativos que também no leitor provocam a vertigem em que Laura está mergulhada. Seu sentido de revisão do passado, de compreensão do papel de cada um dos atores dentro de sua história também funcionam como um mergulho cognitivo, carregado de aceitação e perdão. Laura só não perdoa a si mesma. A propósito de mergulhos é possível afirmar que a água (rio, chuva, oceano) tem papel fundamental como plot twist na narrativa.

“Junho é um bom mês para morrer” é mais um riquíssimo romance de Roberto Menezes e uma bela aposta da Editora Patuá.

NSL
30/09/15

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