quarenta e quatro anos
nadando com vigor
no oceano das oportunidades
em direção a célebre terra prometida
em vão diminuí o ritmo
no intuito de trazer comigo
um irmão, um companheiro
olhar para trás
é beber o rastro de afogados
adiante apenas
uma terra que talvez
seja beijada por meus netos
NSL
14/06/15
domingo, 14 de junho de 2015
quarta-feira, 10 de junho de 2015
deviam deixar-nos
como nos deixam as belas formas da juventude
e a saúde
as memórias de nossos corpos
mas não
estamos sempre encalhando em espaços
onde já não cabemos
adquirindo vestes inadequadas
mesmo quando por vezes
nos distraímos e nos acostumamos
a carregar nossas carcaças gordas e doentes por aí
há as velhas fotografias
de corpos dourados e torneados
à beira da praia
para nos constranger
se bem que ainda poderíamos
rasgar as fotografias
mas a memória
essa não
ela continua
como um vinil arranhado
a repetir uma imagem fantasma
NSL
10/06/15
como nos deixam as belas formas da juventude
e a saúde
as memórias de nossos corpos
mas não
estamos sempre encalhando em espaços
onde já não cabemos
adquirindo vestes inadequadas
mesmo quando por vezes
nos distraímos e nos acostumamos
a carregar nossas carcaças gordas e doentes por aí
há as velhas fotografias
de corpos dourados e torneados
à beira da praia
para nos constranger
se bem que ainda poderíamos
rasgar as fotografias
mas a memória
essa não
ela continua
como um vinil arranhado
a repetir uma imagem fantasma
NSL
10/06/15
segunda-feira, 8 de junho de 2015
que sonho!
você às margens da morte
e eu a expulsar estrangeiros de casa
eu que sou forasteira
no trabalho
na família
na vida
eu que só tive pátria
quando fazíamos amor
como os últimos da terra
e você jurava nunca partir
pensar
acordei viva
e pude levantar-me com minhas pernas
já não é um consolo adequado
não sei até quando
escrever poesias
que você não sabe ler
será o bastante
NSL
08/06/15
você às margens da morte
e eu a expulsar estrangeiros de casa
eu que sou forasteira
no trabalho
na família
na vida
eu que só tive pátria
quando fazíamos amor
como os últimos da terra
e você jurava nunca partir
pensar
acordei viva
e pude levantar-me com minhas pernas
já não é um consolo adequado
não sei até quando
escrever poesias
que você não sabe ler
será o bastante
NSL
08/06/15
domingo, 7 de junho de 2015
revanche
minha avó ia a igreja
às terças, às quintas
e aos domingos
e torcia a boca
para os que
não tinham direito
ao paraíso
gozo meus pecados
como restituição
devolvo, vovó
o céu aos gentios
às terças, às quintas
e aos domingos
e torcia a boca
para os que
não tinham direito
ao paraíso
gozo meus pecados
como restituição
devolvo, vovó
o céu aos gentios
sábado, 6 de junho de 2015
exercício para compreensão da dinâmica do encontro
1- desenhe uma linha que divida um papel em branco ao meio;
2 imagine que seja ela a linha que divide a esquerda o "eu" e a direita o "outro";
3- marque sobre a linha um ponto ou um o quase ruido para representar aquilo que chamamos encontro do"eu" com o "outro";
4- contraia esse ponto até que ele te pareça imperceptível;
5- permita que sua mão corra com o lápis de um lado da folha e depois do outro me maneira aleatória descrevendo traços incompreensíveis;
6- Observe atentamente o resultado;
7- Se você for incapaz de compreender o resultado de todo esse exercício você está pronto.
NSL
05/06/15
2 imagine que seja ela a linha que divide a esquerda o "eu" e a direita o "outro";
3- marque sobre a linha um ponto ou um o quase ruido para representar aquilo que chamamos encontro do"eu" com o "outro";
4- contraia esse ponto até que ele te pareça imperceptível;
5- permita que sua mão corra com o lápis de um lado da folha e depois do outro me maneira aleatória descrevendo traços incompreensíveis;
6- Observe atentamente o resultado;
7- Se você for incapaz de compreender o resultado de todo esse exercício você está pronto.
NSL
05/06/15
quinta-feira, 4 de junho de 2015
Os passáros de minha mãe de Cecília Woloch
Minha primeira tradução. Fui cigana com Cecilia. Também fui um pássaro engordado por minha mãe. Chorei muito ao final da tradução.
My Mother’s Birds
My mother’s Polish nickname was the word for dried-up; sticks —Sucha, her mother called her. Little witch; Miss Skin-and-Bones. Fifth of eleven thin and startled children, all those mouths to feed. Okay: it was the Great Depression; everyone was poor. They baked potatoes over fires in the street, my mother said; dipped stale bread in buttermilk, ate what was put in front of them. And she was dark-eyed, dreamy, danced in vacant lots, played movie star. Tied her black hair up in rags; high-kicked through cinders, broken glass. Picked cigarette butts from the gutters for the pennies Dzia-dzia gave. Though CioaCia Helen down the hill, their crazy aunt, was better off. She gave them sweets, cheap sweets but sweet. She gave them Easter chicks one year. My mother took the tiny peeps and raised them tenderly, as pets. I’ve seen the photographs: their white wings all aflutter in her arms. As if such chickens could have flown, but they were meat, those birds she loved. Tough meat, and these were hungry years. And CioaCia raised the axe. My mother sobbed and couldn’t swallow, nor could anyone, I’ve heard. The story goes she saved a few stray feathers, hid them, sang to them. Knelt above them weeping in the attic, just like church. Fed and watered them for months, her sisters laughed; the ghosts of birds. The way, years later, always singing, she would try to fatten us. Her own strange brood of seven children, raised less tenderly, perhaps. As if, this time, she wanted to be sure we’d get away. She’d set the steaming plates in front of us, still humming, cross her arms. Don’t be afraid to eat, she’d say, because we were. We were afraid.
http://5trope.com/newissue/cecilia-woloch-four-poems/
Pássaros de Minha Mãe
Cecilia Woloch
O apelido polonês da minha mãe
era a palavra vara-pau, Sucha, sua
mãe que deu. Bruxinha; Senhorita Pele e osso. Quinta de onze filhos finos e
assustados, todas aquelas bocas para alimentar. Certo: era a Grande Depressão;
todos eram pobres. Eles cozinhavam batatas em fogueira na rua, minha mãe contou;
mergulhava pão dormido em coalhada, comia
o que era colocado na frente deles. Tinha olhos escuros, sonhadores,
dançava em terrenos baldios, fingia ser estrela de cinema. Amarrava seus
cabelos negros com trapos; dava pontapés em cinzas, vidro quebrado. Colhia pontas
de cigarro nas sarjetas pelas moedas de um centavo de Dzia-dzia. Ainda que CioaCia
Helen fosse louca, descendo a colina, estava melhor. Ela deu-lhes doces, doces
baratos, mas doces. Um ano ela deu-lhes pintos de Páscoa de um ano. Minha
mãe pegou os pequenos pintinhos e levantou-os com ternura, como animais de
estimação. Eu vi as fotografias: suas asas brancas agitadas em seus braços. Como
se esses frangos pudessem voar, mas eles eram carne, as aves que amava. Carne
dura, e estes eram anos de fome. Então CioaCia
levantou o machado. Minha mãe chorou e não conseguia engolir, nem poderia
alguém, eu ouvi. A história diz que ela salvou algumas penas perdidas, as
escondeu, cantou para elas. Ajoelhou sobre elas chorando no sótão, como numa igrejinha. Adubou e regou por
meses, suas irmãs riam; os pássaros
fantasmas. Na estrada, anos mais tarde, sempre cantando,
ela iria tentar nos engordar. A sua estranha ninhada de sete filhos, obteve
menos ternura, talvez. Como se, desta vez, ela quisesse ter certeza de que
teríamos distância. Ela dispunha os pratos fumegantes em frente de
nós, ainda cantarolando, e cruzava os braços. Não tenham medo de comer, ela
dizia, porque estávamos. Estávamos com medo.
terça-feira, 2 de junho de 2015
orquestra dos mortos
não é que eu goste
de flanar sozinha
ao som da orquestra dos mortos
cumprindo minha sina
de avatar invisível
é que tenho como companhia
de flanar sozinha
ao som da orquestra dos mortos
cumprindo minha sina
de avatar invisível
é que tenho como companhia
bagagem indelével
olhos negros suspensos sobre mim
já machuquei gente demais
e ninguém
nem mesmo eu
tem algo para me dar
cheguei ao meu limite
e sou incompetente
para usar a escrita para trapacear
o que me tira a literatura
como último recurso
para mim é sempre vida real
e na vida real
eu perdoo a beleza
desse céu cinza de outono
pois nada é obrigado
a estar triste e feio como eu
NSL
02/06/15
já machuquei gente demais
e ninguém
nem mesmo eu
tem algo para me dar
cheguei ao meu limite
e sou incompetente
para usar a escrita para trapacear
o que me tira a literatura
como último recurso
para mim é sempre vida real
e na vida real
eu perdoo a beleza
desse céu cinza de outono
pois nada é obrigado
a estar triste e feio como eu
NSL
02/06/15
segunda-feira, 1 de junho de 2015
me comove
que esteja convicto acerca da aparição única da sorte
que você saiba o que diz as três linhas em minha mão
que sua voz de fado me torne a mais bela estrela da galáxia
que a tristeza visite seus olhos ao lembrar de sua serra
mas queima-me o peito
saber que você chegou
quando eu já tinha feito minha escolha
NSL
01/06/15
que esteja convicto acerca da aparição única da sorte
que você saiba o que diz as três linhas em minha mão
que sua voz de fado me torne a mais bela estrela da galáxia
que a tristeza visite seus olhos ao lembrar de sua serra
mas queima-me o peito
saber que você chegou
quando eu já tinha feito minha escolha
NSL
01/06/15
Assinar:
Postagens (Atom)