quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Se quisesse eu inventava uma história. Seria uma história triste, atravessada por tragédia e solidões. Mas eu inventava. Se quisesse inventava até uma história feliz, dessas que todo mundo encontra um par, se casa ou fica grávida, que os vilões ficam loucos ou vão para a cadeia no final. História de abandono? Eu inventava. E essas histórias que terminam antes de acabar? Eu inventava também. História fantástica, com milagre, magia ou fenômeno? Eu inventava. Bastava querer.
Mas eu não quero. Não acho que valha a pena. Nem acho que valha a pena viver uma história. E eu acreditava, viu? Eu tinha um lema "invente uma história, acredite nela e viva-a todo dia". Mas isso acabou. 
Ando frouxa, ao sabor do acaso. E o meu acaso são dados viciados na sorte do crupiê. Quem é o crupiê? Todo mundo, menos eu. 
Antes de eu ficar assim, a mercê desses anjos distraídos, liberando o acaso sem pedágio, eu criava tudo. Me cansei de inventar porque isso foi o que fiz a vida toda. Eu sou uma pessoa inventava, sabia? Nem uma ruga, nem uma dobra, um fio de cabelo branco é real. Tudo que você vê em mim é ficção. 
Eu inventei a menina alegre, a adolescente maluca, a mulher de sucesso, a mãe ideal. Tudo de mentira. Houve dias que eu achei que a mulher triste era de verdade mas acabei compreendendo que eu a havia inventado também. 
Eu esgotei uma grande cota de invenção em mim mesma. E enfarei. Por isso não invento histórias. Mas se eu quisesse eu inventava. Ah, inventava. 

NSL
20/11/14

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