domingo, 2 de maio de 2010

Amigos que partem


A amizade é um elemento imprescindível  para convívio social. Os gregos já apontavam a amizade como uma possibilidade de  benevolência recíproca, de hospitalidade, de civilidade e de democracia. 
É  preciso delimitar também a importância da amizade para construção da identidade. Acredito que o esforço de erigir a própria identidade deve ser interminável, mas sei que o "eu" não se constrói no vazio. Várias são as contribuições daqueles que amamos para essa construção. Foram os gregos  igualmente que disseram que um “eu” deve compartilhar a procura do conhecimento com “outro eu”. 
Discorro acerca disso porque me lembrei de um evento interessante. Sou fascinada por roupas de cores vibrantes como dourado, laranja e  vermelho. Mas ampliei meu gosto quase sem perceber.
Tive uma amiga nos anos noventa chamada Roberta. Artista iniciante, de sensibilidade louvável, trabalhou comigo em um setor burocrático por quase um ano. Devido a sua sensibilidade não aguentou a roda dentada do administrativo público e foi-se ser feliz em Diamantina como professora de Artes.
Essa amiga era afeita a cores estranhas para mim. Gostava dos beges, verdes-musgo, marrons e pasteis. Demonstrava esse gosto peculiar nas cores de suas suas roupas e acessórios. 
Após sua partida, imperceptívelmente, passei a usar roupas nos tons descritos acima com muito prazer. Me sentia confortável toda vez que vestia uma blusa verde-musgo. Um conforto para além da textura do tecido. Me sinto tentada a crer que usar as cores preferidas de minha amiga foi um jeito simbólico de manter em mim sua arte, sua sensibilidade e sua firmeza. 
Espero poder encontrá-la novamente e contar como ela se manteve presente junto a mim nessa última década.


Norma de Souza Lopes

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