“A visibilidade é uma armadilha”, escreveu Foucault, e eu sinto essa frase reverberar em mim como uma sentença paradoxal. Quero ser vista, mas o desejo de visibilidade se confunde com o medo de ser reduzida ao olhar do outro. Quando apareço, estou sujeita a interpretações, julgamentos, distorções. Quando desapareço, sinto-me abandonada, sem prova de existência.
Carrego um medo antigo de me tornar invisível — trauma que nasce na infância, quando a ausência de atenção parecia significar inexistência. A criança que fui ainda grita: “olhem para mim”. E a adulta que sou percebe que esse grito pode me aprisionar em redes de aprovação e exposição.
Na vida e nas relações, oscilo entre a entrega plena e o receio de me apagar. Ser presença não é apenas ocupar espaço físico ou digital, mas afetar e ser afetada. Às vezes me pergunto: qual é a medida justa entre estar presente e não me perder no reflexo dos outros?
Nas redes sociais, esse dilema ganha contornos cruéis. Ali, cada aparição é vigilância, cada silêncio é esquecimento. É como se eu tivesse que performar presença para não desaparecer, mesmo quando o desejo seria recolher-me. O algoritmo, tal como o panóptico de Foucault, captura meu desejo de ser reconhecida e o devolve em doses que nunca bastam.
Estou aqui hoje pensando que minha luta é por um lugar onde a visibilidade não seja prisão, mas escolha. Onde a presença não dependa de curtidas nem de olhares furtivos, mas da potência de estar em relação com autenticidade. Talvez a saída seja deslocar o foco: não perguntar o quanto me veem, mas o quanto eu consigo me ver sem me esconder, onde sou vista sem performar, o quanto posso existir inteira sem precisar da vitrine. E não é por acaso que esse post esteja sendo ilustrado pela foto recortada pelo olhar da amada @ana2018carolina, alguém que vem me proporcionando a mais maravilhosa experiência de se deixar ver e de me fazer sentir vista. Obrigada amor ♥️