ah, a alegria dos começos
e o esforço do primeiro verso
(o que veio primeiro?)
podia dizer da sua intenção
de me enxergar
na prateleira
e dizer: venha
quando eu já tinha decidido escolher
teve sua disposição
de encarar a gangue de amigos
aquele sorriso
(parava fácil a afonso pena inteira),
a decisão de ficar
o primeiro beijo,
o cheiro cítrico de flores no quarto
em seus cabelos,
no travesseiro
(calcinhas perdidas nos pés da cama),
os lençóis guardando suas curvas,
as marcas de suas águas –
ah, suas águas sobre mim
a despeito do acordo
terapêutico
dramático
“não vai se apaixonar tão rápido” ou
“quatro encontros antes da cama”
de cara eu te oferecia o pijama
e cabia tão lindo em você
a ingenuidade da promessa
de explorar a casa
só pra nos colocar em fuga
(droga de retorno surpresa)
o mundo cabe inteiro no espaço
entre suas covinhas
quando você sorri
saudade é a palavra
que multiplicamos
cem vezes nas nossas vozes
(duzentas vezes nos áudios de whatsapp),
na distância, nas mensagens
e há a calma que mora
nos nossos encontros,
na posição de conforto para dormir,
seu corpo em repouso
e o ronronar
que virou
minha canção de ninar
e que não ouso interromper
carrego seu nome desde a infância:
a menina bonita
da classe do fundamental
se eu fosse menos nietzschiana
chamava de destino
o que estamos construindo
há medo, confesso,
mas também há a paz
e a ausência de drama
por isso aposto todo dia
é cedo, eu sei
mas vou te desenhar
um casal
de pinguins
e te convidar:
vem viver par em mim