segunda-feira, 25 de novembro de 2024

quando me perde







[do lado de dentro]

o que você vê quando fecha
os olhos? uma sombra riscando
o verde, ou talvez,

a curva de uma estrada que nunca pegamos.
eu estava ali, sempre ali.
o que você vê quando tenta medir
o amor que escorre pelos dedos?

é como um polvo constelar,
invisível e presente,
pequeno, mas impossível de ignorar.
você vê o que era?

companheirismo em mapas e mirantes,
a pausa antes do riso
ou o som do vento quando a gente parava de falar.

não há time lapse aqui,
apenas o som oco de uma mala abrindo.
— qual é a verdade desta vez?

você perde a viagem,
o texto nas entrelinhas,
a foto borrada onde o sorriso era só meu.

[de fora]

o que fica no vidro
do carro que você ainda dirige?
a poeira de quem sabe olhar devagar.

eu te disse uma vez:
você não perde o amor por duas vezes,
mas chega ao pôr do sol duas semanas depois
e sente o mesmo vazio.

você perde o livro que nunca escrevi sobre nós,
perde a conversa no café
sobre a impossibilidade de entender.

eu era a verdade 20 vezes por segundo,
uma imagem parada que você não soube
revelar
o que você vê ao abrir a porta de casa?
os vestígios de quem esteve lá
agora é ausência
o pet também perde?

[uma montanha ao contrário]

não é o silêncio que te espera,
mas as palavras que eu não disse,
o riso que guardo em algum lugar abissal.

perder a mim é perder
o que nunca foi suficiente,
e sempre mais do que você mereceu.