são tão vulgares os passos das sombras
sobre as paredes no correr do dia
meu olhar aguçado de medo pelas ruas
a solidão desperdiçada por
incompetência em ficar só
as histórias de família, sua mixórdia
podia inventar um lugar plácido
mas os poetas já o desperdiçaram
com sua miríade de poemas
sobre o silêncio
quisera ao menos um dia
estar suspensa sobre
esses ordinários
tempo e espaço
domingo, 15 de julho de 2018
Tião, Sansão, Delírio. A gente só ri e transforma em chavão as falas mais icônicas dos bêbados do bairro. E fica se perguntando como pode uma pessoa se afogar numa poça de lama a centrimetros da porta.
Mas nunca, nunca pergunta qual é a dor que os corta.
Não pense que há uma moral nisso. Não mesmo. É que de repente me ocorreu que talvez eles quisessem ter sua foto pendurada na parede do funcionário do mês. Talvez.
estávamos perdidas
nossa fúria sedada
no número 4766
dos basculantes milimétricos
dava para ver dezesseis árvores
a comida sem sal
o abraço morno
das cobertas lavadas
em lavanderia
um livro, uma fruta
um artesanato
executado no t.o.
trazia o melhor
dos dois mundos
a leveza do vínculo
vestida de testosterona
ninguém cuidava
mais que tu
é nem choveu
quando você foi embora
eu ia querer dizer
que o céu chorou