terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Mudança II




















Agora que moro nesta casa
de dois pisos e poucas janelas
e talvez por a casa ser meio torta 
ando falando em selar alçapões
fechar portas e prender tramelas


Depois da dor de arrancar 
de mim e das antigas paredes
tantos parafusos
prendi novamente os móveis
acabei de ler o Muro do Sartre 
e agora sinto tudo firmente preso

Posso dizer que sair do lugar
e mudar já não dói tanto
mas a mania que os lugares tem
de se esvaziarem das memórias
e das pessoas está me impressionando

Norma de Souza Lopes


segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

resoluções para uma vida nova

Essa história vira-latas
que sempre contei rabo abanando
essa novela vai acabar
o cortiço sorridente e alegre
vai virar sepulcro caiado
só morta deixo o outro entrar

As pernas abertas da vida
o livro aberto da dor
não mereceram respeito
não receberam amor

Pam! Fecho a porta da rua
Fora! Arreganho os dentes
pé na soleira, braço no batente
nínguém entra, nem parente

Sedução, invasão e outra facas
nessa carne gauche, feia e torta
não me cortam, achei a resposta
enfim, era só fechar a porta

Norma de Souza Lopes

Universal

Para agradar, me disseram 
há que ser universal
menos mulher
menos eu

Sou como todas
mulher filha  mãe trabalhadora
e disso escrevo
ainda me querem mais universal?

Norma de Souza Lopes

sábado, 28 de janeiro de 2012

Sem palavras

Chega de procurar
palavras para a realidade
não se aprisiona o real num vocábulo



Acho verdade é nos cheiros do meu homem
no sabor de sua comida
e em suas carnes e toques

Norma de Souza Lopes





Desinspirada

Como a Adélia 
acho que Deus me tirou a poesia
vejo o feio na linha
falta figura na palavra
mas insisto
que escrever também é minha sina

Norma de Souza Lopes

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Como falo

Se como não falo
se falo não como
como falo 
sem falo
falo sem coma
ordenada coma
saída do coma
ordem nada
desordenada

Norma de Souza Lopes